O Sistema FIERN, por meio do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), e a Agência Espacial Brasileira (AEB) formalizaram nesta quinta-feira (16), em Natal, um acordo de cooperação técnica que deverá abrir perspectivas inéditas para o desenvolvimento e uso de satélites, radares e outras tecnologias nacionais pela primeira vez focadas no setor de “energias limpas”.
A estratégia pretende ajudar a impulsionar o mapeamento de áreas maiores e mais remotas – como o mar – para medir o potencial de geração, por exemplo, em futuros parques eólicos, detectar a necessidade de manutenção e operação de equipamentos instalados nessas áreas, além de reduzir custos com esse tipo de levantamento, que chegam à casa de milhões de dólares.
Hoje, o uso de equipamentos espaciais – ou satelitais – como esses, ainda é considerado incipiente no setor elétrico brasileiro e depende de tecnologias estrangeiras.
“O Sistema FIERN, através do ISI de Energias Renováveis, abre a oportunidade de um trabalho junto com a Agência para comprovar dados que já existem e dados que vão ser apurados, podendo trazer melhorias de qualidade dessas informações no campo das energias renováveis – em que o RN é líder no país -, de modo a dar mais segurança às empresas de que esses dados poderão ser utilizados nos seus projetos e de que elas poderão fazer os seus investimentos com mais tranquilidade”, comentou o presidente do Sistema FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN, Amaro Sales de Araújo.
O documento assinado entre as partes aponta a expectativa de que os trabalhos que serão realizados a partir do acordo proporcionem a criação de um ecossistema capaz de estimular investimentos, mais produtividade e competitividade para indústrias desses e de outros segmentos.
“Nós acreditamos que podemos contribuir muito com a coleta de informações ambientais que permitam conhecer melhor toda a nossa atmosfera, toda a dinâmica que pode contribuir para energia fotovoltaica e energia eólica, ou seja, existe um mar de possibilidades que podemos explorar com toda a capacidade que já se tem instalada aqui”, disse o presidente da AEB, Carlos Moura, durante a solenidade realizada na Casa da Indústria, explicando que “usar sistemas espaciais, olhando de cima o país, uma região, com auxílio de sensores na superfície” facilita, acelera e barateia a coleta de mais informações para análises de meteorologistas e pesquisadores que irão subsidiar decisões de investimentos e operações do setor.
O ACORDO
O diretor regional do SENAI no estado, Emerson Batista, explica que o acordo tem 11 objetivos específicos voltados à aplicação do uso de tecnologias e serviços espaciais no campo das energias renováveis, com amplitude de expansão para outras áreas onde a tecnologia via satélite, por exemplo, pode atuar. O alcance do projeto, explica ainda, não está restrito ao Rio Grande do Norte. “A ideia dos 27 Institutos SENAI de Inovação no Brasil é o desenvolvimento para ação em qualquer lugar do país e assim também acontece com esse projeto do ISI-ER. A abrangência dele é nacional”, disse.
O acordo terá duração de 36 meses. A AEB terá papel de articuladora no projeto. Ao ISI-ER – principal referência do SENAI no Brasil para pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco em energias renováveis – caberá atrair empresas que queiram investir no desenvolvimento das tecnologias espaciais de olho no setor. Mas não só isso.
“A médio prazo pretendemos participar do lançamento de satélites com sensores capazes de gerar informações para melhorar a qualidade dos dados que nós produzimos em terra”, diz o diretor do ISI-ER e do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), Rodrigo Mello, ressaltando que o Instituto sediado em Natal é o único órgão no Brasil que faz medições propriamente ditas no mar, para realizar previsões de geração de energia. “E esse projeto vai trazer perspectiva de melhora de qualidade desses dados, pois nós estaremos gerando (energia) aqui em baixo com uma visão lá de cima”, reforça.
DESENVOLVIMENTO
Do ponto de vista prático, o coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento do ISI-ER, Antonio Medeiros, explica que “um dos objetivos é estimular empresas brasileiras a investirem em desenvolvimento de tecnologia espacial – ou satelital – o que inclui satélites e radares, por exemplo, para coletas de dados mais precisas com aplicação especificamente no setor de energias renováveis”.
Também abriria-se caminho, por exemplo, para redução de custos com medição, com possibilidades de uso dessas tecnologias para avaliação de áreas maiores – e remotas, em vez de mapeamentos realizados “ponto a ponto” como ocorre hoje.
“Essa tecnologia reduz o custo porque você pode varrer uma área grande de uma única vez. No lugar de ter várias torres de medição, com custo mínimo de US$ 2 milhões anuais com cada uma delas, você só teria uma torre e validaria com tecnologia satelital e modelagem”, exemplifica o pesquisador. “Seria como fazer uma varredura de um estado por vez, determinando o potencial energético daquela região com menor incerteza”, diz ele, acrescentando que no caso do offshore, por exemplo, em que os ambientes estariam a muitas milhas náuticas de distância, será cada vez mais necessário ter caminhos e canais de comunicação disponíveis para medir as variáveis envolvidas.
A estratégia, segundo Medeiros, seria capaz de reduzir o grau de incerteza em investimentos voltados a energia solar fotovoltaica, energia hídrica e ao promissor segmento de offshore, de energia eólica – a geração da “energia dos ventos”, no mar.
“A gente enxergou uma oportunidade de desenvolver tecnologia nacional para suprir as necessidades do setor, que vão surgir só daqui a 10 anos, quando os parques (no mar) estiverem em operação, ou daqui a cinco, quando estiverem em fase de prospecção”, complementa. Segundo informações do Ibama, 23 projetos de geração de energia eólica offshore estão em processo de licenciamento no órgão, de olho nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Rio de Janeiro, Piauí, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Bahia.
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