“Nós temos que sonhar para realizar.” Essa foi a frase dita por Rosemary Gomes, oradora da turma do Curso de Qualificação Profissional – Costureiro Industrial, realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem da Indústria (SENAI-RN), na cerimônia de entrega de certificados de conclusão do curso, realizada na noite desta terça-feira (30), no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN. A declaração reflete o principal aspecto da formação e sentimento da turma: o uso da qualificação profissional em costura como meio de mudança de vida.
Ao todo, 38 pessoas, entre homens e mulheres, receberam os certificados. As duas turmas concluintes atendem a uma demanda – recebida pelo Sistema FIERN e executada por meio do SENAI-RN – do setor de confecções e vestuário do estado.
O discurso de Rosemary Gomes reverbera em tantas outras mulheres com histórias parecidas. Mãe solo de um filho com espectro autista nível três de suporte, ela iniciou a formação para ter mais autonomia. Ela conta que, como mora sozinha e arca com todos os cuidados domésticos, precisou deixá-lo com a mãe para atender às aulas.
Mesmo com os obstáculos, sua fala dirigida aos outros alunos foi repleta de felicidade, que responderam com o mesmo entusiasmo. “Para mim, esse curso foi uma terapia. Eu estava fazendo terapia com psicólogo, recebi alta e vim para a segunda terapia que foi esse curso de corte e costura maravilhoso. Estou muito satisfeita e feliz”, declara a oradora.
E faz planos para o futuro. “Sonho em fazer minhas próprias roupas e as do meu filho, sonho em trabalhar em casa já que não tenho a possibilidade de trabalhar fora. Esses são os meus objetivos e o meu sonho é abrir um ateliê na minha casa”, finaliza.
O curso teve duração de dois meses, segundo a instrutora de educação do SENAI, Sebastiana Soares. De acordo com ela, grande parte das alunas chegaram na turma sem ter afinidade com a área de costura, mas com vontade de aprender. A formação é desenvolvida justamente para proporcionar maior autonomia e abrir um leque de outras possibilidades, tanto dentro de empresas de confecção, quanto voltadas para o empreendedorismo.
Costura coletiva e solidariedade
Na cerimônia, algumas alunas expuseram orgulhosamente as peças que produziram em manequins, enquanto outras foram os próprios manequins e se vestiram com as novas produções. Como Claudia Medeiros, que costurou um vestido com tecido em linho de cor bege junto com as amigas da turma. Ela detalha que a peça foi produzida de maneira coletiva com as colegas e que expressa, de forma prática, o sentimento de união entre as costureiras.
“Eu adorei. Cheguei aqui sem saber de nada e estou saindo com uma peça feita por mim com a colaboração das amigas. Só o fato de ter feito as peças obrigatórias do curso e por estar saindo com uma peça de cunho afetivo, já valeu a pena”, destaca Claudia Medeiros.
Diferente de outras colegas que querem empreender, o objetivo dela tem propósito social: ajudar pessoas idosas em situação de vulnerabilidade. “Eu já sou aposentada da UFRN e fiz o curso com o intuito de aprender o básico, porque vou montar um projeto com minha mãe para doação de lençóis, fronhas e roupas para idosas acamadas”, detalha.
Formação surgiu por demanda da indústria
O Curso de Qualificação Profissional – Costureiro Industrial foi desenvolvido em parceria com a unidade do SENAI-RN Centro de Educação e Tecnologias Aluisio Bezerra, em Santa Cruz, por meio de uma unidade móvel ao longo de dois meses, com total de 160h de formação.
De acordo com a coordenadora pedagógica do SENAI em Natal, Geiza Revorêdo, o curso foi ofertado a partir de uma demanda de empresários da área de Moda e Confecções por profissionais qualificados, que foi apresentada ao Sistema FIERN.
“As empresas desse setor têm necessidade de profissionais com essa ‘pegada’ de roupas de alfaiataria e de peças mais estruturadas. Com essa certificação, estamos deixando essas alunas muito mais capacitadas para o mercado na área do vestuário”, detalha Revorêdo.
Eliana Maria, coordenadora pedagógica do SENAI em Santa Cruz, região do Trairí potiguar, comenta que essa é uma demanda frequente no município, que já atendeu outras turmas com o mesmo propósito, mas essa se torna diferente pelo teor mais específico de produção das peças mais elaboradas.
“Lá em Santa Cruz nós temos essa prática constante de atendimentos nas unidades remotas de ensino. Aqui estamos com uma unidade móvel que comporta 25 alunos por turma. Essa foi um sucesso! Estamos encerrando hoje, mas o ciclo iniciado na vida dessas pessoas continua”, conclui.
Texto e fotos: Líria Paz
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