Programa de capacitação com cursos gratuitos ajuda a combater vazamentos de gases do efeito estufa

3/08/2023   11h12

Laboratório de refrigeração do CTGAS-ER, do SENAI-RN: Imagem mostra instrutores da instituição e do SENAI Tocantins durante treinamento para os cursos

 

Um programa de capacitação com cursos gratuitos para 17 estados do Brasil, incluindo o Rio Grande do Norte, tem impulsionado boas práticas que ajudam a combater vazamentos de fluidos refrigerantes de aparelhos de ar-condicionado e possíveis impactos que essas substâncias causariam ao meio ambiente, se lançadas na atmosfera. O foco da ação são profissionais que estão em campo, fazendo instalação e manutenção desse tipo de equipamento em casas e estabelecimentos comerciais.

 

Os chamados Hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), que podem escapar do sistema de refrigeração por falhas no serviço, desgastes ou avarias nos equipamentos, estão no rol de gases “destruidores da camada de ozônio” – a camada que protege a Terra dos perigos da radiação ultravioleta do tipo B, proveniente do Sol. Eles também são considerados poderosos gases do efeito estufa e estão na mira de uma série de ações que estimulam a redução do consumo no país e, por consequência, dos riscos e efeitos que trazem ao planeta. Uma das frentes de batalha nesse caminho é, justamente, a educação profissional.

 

“Essas são substâncias que podem permanecer na atmosfera por até 100 anos”, diz o analista ambiental da Secretaria Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Frank Amorim. “As moléculas, às vezes, vão fazer efeito só daqui a dois, três ou 20 anos. Então evitar esses vazamentos é fundamental”, acrescenta.

 

Os treinamentos promovidos com esse objetivo fazem parte do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH), coordenado pelo Ministério e implementado pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

 

Stefanie von Heinemann, consultora e gerente de projetos da GIZ, ressalta que a contenção de vazamentos de quaisquer fluidos é essencial. “É que além do custo ambiental, os vazamentos de fluidos refrigerantes causam um impacto financeiro nos negócios. Isto porque os sistemas com vazamentos não operam de forma eficiente e, com isso, geram também maiores gastos de energia elétrica”, afirma.

 

Capacitação

Em Natal, a “Capacitação em Boas Práticas em Sistemas de Ar Condicionado do tipo Janela e Mini-Split”, que integra o PBH, é realizada pelo Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN.

 

Duas novas turmas são previstas ainda este ano, com datas de início entre os meses de agosto e setembro. Outras formações foram realizadas em meses anteriores na capital e também em Mossoró.

 

A programação e a disponibilidade de vagas podem ser consultadas pelo número  84 98704-0482.

 

“Estes são cursos de aperfeiçoamento voltados a profissionais que já atuam na área de refrigeração”, detalha a diretora do CTGAS-ER, Amora Vieira. “Nós temos a meta de até o ano que vem formar 300 profissionais de refrigeração no Rio Grande do Norte com esse treinamento, trazendo boas práticas de execução dos serviços, com o olhar na sustentabilidade”, acrescenta.

 

Entre os pré-requisitos para participar estão a idade mínima de 18 anos e experiência profissional de pelo menos três anos com serviços no setor de refrigeração e ar condicionado.

 

A capacitação tem carga horária de 32 horas e inclui técnicas que possibilitam prevenção, identificação e solução de vazamentos, além do manuseio adequado, o recolhimento, a reciclagem e a regeneração dos fluidos refrigerantes, entre outros procedimentos.

 

Representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e da GIZ com instrutores do SENAI: Programa amplia conscientização e reforça pontos técnicos que aprimoram a competência dos profissionais, com olhar na sustentabilidade

 

“Na perspectiva do SENAI-RN, fazer parte desse Programa endossa o nosso compromisso de promover o aperfeiçoamento de profissionais da área, para que atuem e se conscientizem com base nas boas práticas de execução, com viés muito importante nas questões ambientais”, frisa ainda Amora Vieira.

 

Multiplicadores

 

Na última semana de julho, a iniciativa promoveu a formação de seis instrutores de educação e tecnologias do SENAI-RN e do SENAI Tocantins, para que atuem como multiplicadores dos conhecimentos que adquiriram na capacitação. “Nós estamos aumentando o número de instrutores capacitados com foco nessas boas práticas para poder entregar esse aperfeiçoamento ao público-alvo do projeto”, observa a diretora.

 

O treinamento foi realizado no laboratório de refrigeração do CTGAS-ER, no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI. A instituição já tem parte da equipe capacitada por consultores da GIZ e agora coordena e executa o programa para os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Tocantins e Pernambuco através de financiamento de projeto firmado com a agência.

 

A iniciativa, porém, também conta com a participação de outras instituições de ensino e abrange outros territórios. “Trabalhamos com escolas técnicas em 17 estados do Brasil. Muitas das parceiras são do sistema SENAI. Outras são Institutos Federais e escolas privadas do setor de refrigeração e ar condicionado”, diz Stefanie von Heinemann.

 

Nacionalmente, aproximadamente 15 mil técnicos/as receberam capacitação para repassar teoria e prática nos cursos gratuitos voltados a profissionais do setor. “É muito gratificante ver esses professores motivados para nos apoiar na missão de disseminar boas práticas capazes de reduzir ou até eliminar os vazamentos desses gases, o mais breve possível”, complementa a gerente de projeto.

 

Sinais de alerta

Na prática, o vazamento dos HCFCs ocorre “de forma silenciosa”, diz o instrutor do CTGAS-ER, Leonardo Sabino. Gotas d’água que eventualmente caiam do equipamento ou barulhos fora do convencional não são considerados indícios do problema.  “Normalmente só dá para identificar que algo está errado quando o rendimento da máquina começa a cair, ou seja, quando ela não está mais resfriando o ambiente e a pessoa chama o técnico para fazer uma avaliação”, explica.

 

Segundo o instrutor, “há muita fuga de fluido refrigerante para a atmosfera devido ao mau uso de ferramentas e técnicas nos serviços de instalação e manutenção”. “No curso buscamos ensinar os procedimentos adequados para que os alunos evitem o problema”, reitera.

 

Stefanie von Heinemann, da GIZ, e Leonardo Sabino, instrutor do CTGAS-ER: Além do custo ambiental, os vazamentos de fluidos refrigerantes causam um impacto financeiro nos negócios

 

Os HCFCs

Metas para reduzir o consumo de Hidroclorofluorcarbonos – com a substituição deles por opções menos agressivas ao meio ambiente – são previstas no Protocolo de Montreal, um acordo internacional firmado em 1987, por 198 países-partes, em resposta à degradação registrada na Camada de Ozônio.

 

O Brasil, como um dos signatários do acordo, criou o Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs em 2013 e, em 2021, alcançou a redução de 51,6% do consumo dessas substâncias, disse, durante o treinamento em Natal na semana passada, o analista ambiental da Secretaria Nacional de Mudança do Clima do MMA, Frank Amorim.

 

“Nossa meta é, em 2030, atingir 97,5% de eliminação desses gases. Também temos a expectativa de lançar um novo programa, até meados de 2026, para a redução de pelo menos 10% do consumo de Hidrofluorcarbonos (HFCs) a partir de 2029, substâncias que, embora não destruam a Camada de Ozônio, causam aquecimento global e foram colocadas no mercado como substitutas dos HCFCs e CFCs”, acrescentou ele.

 

Uma atitude fundamental por parte das empresas e da população pode ajudar nesse processo, segundo o analista: “É preciso escolher técnicos bem capacitados, que tenham a formação necessária na área e não sejam apenas, vamos dizer, ‘penduradores’ de ar-condicionado”.

 

De acordo com Amorim, é preciso escolher profissionais ou empresas que façam instalações conforme as normas de segurança utilizadas no Brasil.

 

 

SAIBA MAIS

  • No Brasil, estima-se que o setor de serviços de refrigeração e ar condicionado responda por aproximadamente 82% do consumo do chamado HCFC-22.

 

  • “O HCFC mais usado é quase duas mil vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2) na contribuição para o aquecimento global”, chegou a declarar, em mensagem oficial em 2011, o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

 

  • O Programa que busca a eliminação dos HCFCs amplia essa conscientização e reforça, a partir da metodologia, pontos técnicos que aprimoram a competência dos profissionais, que passam a atuar com o olhar e o compromisso para a sustentabilidade.

 

 

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