O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) apresentou, nesta sexta-feira (16), os principais resultados do primeiro ano de medições do potencial de geração de energia eólica offshore na região do Porto-Ilha de Areia Branca, a 20km da região da Costa Branca, no Rio Grande do Norte. As medições fazem parte do projeto “Potencial eólico offshore na região da Margem Equatorial Brasileira”, do ISI-ER em convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para fazer o maior mapeamento eólico do Brasil de olho no potencial offshore.
O projeto prevê a identificação das melhores áreas de potencial eólico para fomentar o desenvolvimento de projetos de parques, além de auxiliar os fabricantes de equipamentos a dimensionarem aerogeradores, torres e fundações adequados ao perfil de vento da Margem Equatorial Brasileira — que vai do Amapá à ilha de Fernando de Noronha. Os trabalhos incluem medições de velocidade e direção dos ventos em pontos estratégicos e em diferentes períodos de tempo.
A apresentação foi feita pelo coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do ISI-ER, Antônio Medeiros, durante uma cerimônia realizada para convidados na Casa da Indústria, que contou com a presença do presidente da FIERN, Amaro Sales; do diretor-tesoureiro e presidente eleito da FIERN, Roberto Serquiz; do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates; da governadora Fátima Bezerra; do senador Davi Alcolumbre, do Amapá; além de outros empresários e autoridades.
A cerimônia faz parte da programação em alusão ao aniversário de dois anos do ISI-ER, comemorados oficialmente na quinta-feira (15), mesma data em que é celebrado o Dia Mundial do Vento. Também integra a programação dos 70 anos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte, instituição a qual o ISI-ER é vinculado.
Principais resultados
Os dados apresentados pelo coordenador de P&D do ISI-ER, Antônio Medeiros, foram coletados em um dispositivo LiDAR (do inglês Light Detection and Ranging) e de uma estação meteorológica fixados no Porto-Ilha de Areia Branca. O LiDAR é um sensor ótico que permite medir a velocidade e direção do vento, entre 10 e 200 metros de altura, gerando dados compatíveis com a altura de operação das turbinas eólicas offshore.
De acordo com Antônio, o perfil de distribuição dos ventos no mar é muito parecido com o perfil em terra. “Há uma boa capacidade para geração, sendo um vento calmo e sem grandes rajadas”, afirma.
Outro fator monitorado é a variabilidade média horária do vento, que tem uma tendência de acelerar bastante a partir do final da tarde até o fim da noite e vai decaindo ao longo da madrugada. “Quando estudarmos esse fator em toda a Margem Equatorial, poderemos ter um cenário parecido com a geração onshore, em que o Sul e o Nordeste se complementam em uma matriz que dê segurança ao aproveitamento da energia. Ao se falar em produção de hidrogênio, inclusive, poderá haver um mix na aquisição de energia com fornecedores de diferentes regiões para garantir o selo verde do produto”, comenta o coordenador de P&D do ISI-ER.
Na variabilidade média mensal, Antônio observa que de agosto até novembro é o período em que ocorre a maior intensidade, além de haver uma predominância na direção do vento. “O histórico de medição desse dado é fundamental para, por exemplo, desenhar o alinhamento das torres dos parques”, comenta Antônio.
Ele ainda destaca que a turbulência de vento na região não é tão elevada quanto esperado. “Os parâmetros que representam a distribuição dos ventos não variam tanto com a mudança de altitude entre 100 e 200 metros, sempre seguindo na faixa dos 10 m/s e com pouca intensidade de rajadas”, aponta.
Importância da medição na Margem Equatorial Brasileira
Considerando que mais de 80% dos parques eólicos do Brasil estão instalados na região Nordeste, o coordenador de P&D do ISI-ER acredita que a Margem Equatorial Brasileira, que contempla tanto estados nordestinos como nortenhos, será a primeira região a ser explorada. Diante disso, é necessário conhecer as características meteoceanográficas do local.
A importância das medições dessas características foi destacada na mesa de debates sobre a apresentação coordenador de P&D do ISI-ER, com participação do pesquisador Ramon Freitas, responsável por Projetos, Desenvolvimento e Inovação da Camargo Schubert Energia Eólica; do diretor de Engenharia da Barlovento Energias Renováveis, Flávio Rosa; e do superintendente adjunto da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Gustavo Ponte.
Para Ramon, o ISI-ER orgulha o Brasil ao ser protagonista na tarefa de medição do potencial eólico offshore da Margem Equatorial. “Essa medição é fundamental para entendermos a dinâmica do vento nessa área e para definir a operação dos parques”, declara.
Já Flávio Rosa destaca a necessidade de entender e relacionar as realidades entre os ventos medidos em terra e no mar. “É preciso aproveitar as similaridades para facilitar a instalação e operação, além de entender as diferenças”, comenta.
Por fim, Gustavo Ponte enaltece o trabalho do ISI-ER e ressalta a importância de medir os diferentes fatores da região para alicerçar os projetos de empreendimentos. “A dinâmica climatológica do vento no mar e na terra são bastante diferentes, então é importante entender essas características através da medição”, afirma.
Diante dessa necessidade de realizar medições precisas e também com os objetivos de refinar o trabalho de calibração de equipamentos e desenvolver tecnologias para instalação e operação de parques offshore, o ISI-ER articula a instalação de dois protótipos de aerogeradores offshore — um de 7mW e outro de 15mW — próximos ao Porto-Ilha de Areia Branca. “Essa iniciativa faz com que a indústria nacional capte uma tecnologia para viabilizar a criação de empregos e ter uma transição energética justa”, explica o coordenador de P&D do ISI-ER.
“Em 2023, a inauguração de três aerogeradores de 600kW, pela Petrobras, em Macau completa 20 anos. Hoje, as máquinas instaladas no RN têm capacidade de 6mW, ou seja, dez vezes mais do que os primeiros instalados. Se não tivesse ocorrido aquele trabalho pioneiro de instalar os protótipos para entender como funcionava, para treinar profissionais e aprimorar o fornecimento de equipamentos, não teríamos o cenário atual”, completa.
“Entender o perfil e velocidade do vento, o tipo de solo, se há rotas migratórias de animais ou população de corais que precisam ser evitadas é essencial para determinar o tipo de fundação e tamanho dos aerogeradores. Tudo isso é necessário para o sucesso da indústria eólica offshore”, conclui Antônio.
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