A evolução do projeto da primeira planta-piloto do Brasil para estudos voltados à energia eólica offshore foi apresentada nesta quinta-feira (19) pelo diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, no FWS South America Offshore Wind 2024, no Rio de Janeiro. O evento é um dos principais fóruns de discussão no Brasil sobre energia eólica offshore.
Na edição deste ano, estiveram em pauta questões como licenciamento ambiental, cadeia de suprimentos, seleção de tecnologias e infraestrutura para o desenvolvimento dessa nova indústria.
A planta-piloto do SENAI é um sítio de testes, em condições reais de operação, para futuros aerogeradores que serão implantados no mar do Brasil. A expectativa da instituição é que o início da operação ocorra em 2027. Atualmente, o projeto está em fase de licenciamento ambiental no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Uma linha do tempo explicando da ideia aos passos seguintes do processo, incluindo estudos ambientais, variáveis monitoradas, tecnologias analisadas, articulação de parcerias, entre outros detalhes que envolvem as fases de pré-instalação, instalação, operação e futuro descomissionamento foi destacada na apresentação realizada no fórum.
“O assunto planta-piloto está palpitante”, disse o diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello. “Conseguimos mostrar o estágio do projeto, o rumo tecnológico escolhido e observações sobre as condições de instalação, incluindo a estrutura logística do Brasil e o fato de estarmos buscando não depender de grandes navios, tendo em vista o custo e a escassez desses equipamentos no mundo”, acrescenta.
Projeto
O projeto da planta-piloto prevê a instalação de dois aerogeradores, com potência somada de 24,5 Megawatts (MW), no município de Areia Branca (RN), a 330 km da capital, Natal.
As máquinas serão implantadas a 4,5 km de distância do Porto-Ilha de Areia Branca, principal ponto de escoamento do sal produzido no Brasil.
A região é considerada rasa e, segundo estudos desenvolvidos pelo ISI-ER, está distante de recifes de coral e das tradicionais zonas de pesca.
O sistema de implantação se baseia em um modelo criado na Espanha, pela Esteyco, que possibilita a montagem total das torres em terra e que elas sejam então levadas até o destino, no mar, com o apoio de rebocadores – ou seja, sem a necessidade de grandes estruturas de navios. As máquinas são então posicionadas no fundo, sem perfuração.
A espanhola Esteyco, a Goldwind Brasil, de origem chinesa, a potiguar Dois A Engenharia, a italiana Prysmian e a Intersal, consórcio que opera o Porto-Ilha, já foram anunciados como parceiros no projeto.
Discussão
“Nós conseguimos, durante a apresentação, abordar a importância da discussão tecnológica, social, ambiental e da questão do convívio com a comunidade local, seja ela de pescadores, pesquisadores, empresas ou gestores públicos. Construimos o processo de licenciamento com a participação e opinião deles”, observa Rodrigo Mello.
O projeto foi detalhado no painel “Offshore Wind PILOT Projects and Ports & Harbors” do evento, que também contou com a participação de integrantes da Secretaria de Energia e Economia do Mar, do governo do estado do Rio de Janeiro, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, da Petrobras e da área de engenharia de projetos e energia eólica offshore da empresa DNV. A moderação ficou por conta do professor e pesquisador Milad Shadman, do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Na ocasião, o diretor do SENAI também explicou a relação de longa data que a instituição mantém com a indústria offshore, na área de pesquisa. Mencionou projetos que tem liderado para o setor, como o desenvolvimento da BRAVO – Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore, tecnologia desenvolvida de forma inédita no país para prospecções ligadas à energia eólica offshore, da Petrobras; além do mais abrangente mapeamento eólico offshore em curso no país. O projeto, em convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), está em andamento ao longo de toda a Margem Equatorial Brasileira.
Segundo o executivo, a indisponibilidade de equipamentos como navios, no mundo inteiro, para a implantação dos novos parques e a necessidade de esclarecimentos à população para a boa convivência dos futuros empreendimentos com as comunidades locais foram apontadas entre os desafios principais do setor.
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