A energia eólica offshore tem potencial de gerar quase o dobro de empregos temporários e aproximadamente cinco vezes mais empregos permanentes que os parques eólicos onshore, em terra, mas, para aproveitar oportunidades nessa área, o Brasil terá de priorizar a formação de novos talentos.
O alerta é acionado pelo coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Antonio Medeiros, durante apresentação no ABEEólica Debate, evento online promovido pela Associação Brasileira de Energia Eólica (clique aqui para assistir).
A energia eólica offshore é gerada com usinas implantadas no mar, modalidade já existente nos Estados Unidos, na Ásia e em países da Europa. No Brasil, o setor está no início, com os primeiros projetos em processo de licenciamento ambiental.
Os complexos são previstos para seis estados, incluindo o Rio Grande do Norte – maior produtor de energia eólica no país, em terra. A expectativa da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) é que o primeiro leilão ocorra em 2023 e que os primeiros projetos possam iniciar produção até 2030.
“É preciso formar pessoas para o offshore e, com foco na transição energética, também formar pessoas na área de hidrogênio”, disse Medeiros durante o evento, ao destacar temas que o Brasil precisa priorizar entre os anos 2022 e 2025 para dar vazão à estruturação e ao crescimento previstos para o offshore e o hidrogênio.
A ampliação de mapeamentos do recurso eólico no país – para identificação das melhores áreas de investimentos – e o apoio ao desenvolvimento de clusters navais (portos-indústrias), além do desenvolvimento de equipamentos e sistemas para a eólica offshore, de rotas de descarbonização e de modelos de negócio de hidrogênio sustentável também foram apontados como fundamentais pelo pesquisador nesse contexto.
Desafios
É na formação de profissionais para construir e alavancar essas novas indústrias, entretanto, que ele diz enxergar alguns dos desafios mais urgentes no país.
“Em 2009, quando começaram os leilões de energia eólica, tínhamos que trazer gente de fora para montar aerogerador no Rio Grande do Norte. Hoje temos indústrias potiguares, inclusive, que conseguem produzir torre, fazer montagem, mas a maioria dos fabricantes tem escritórios de engenharia fora do Brasil e isso só vai ser revertido se a gente conseguir formar pessoas com excelente qualidade aqui”, observou Medeiros.
O pesquisador já havia chamado a atenção para a necessidade de investimentos na área durante apresentação realizada neste mês para a Frente Parlamentar de Recursos Naturais e Energia do Congresso Nacional, em Brasília.
Referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade, o ISI-ER está localizado no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN, em Natal, complexo que também sedia o Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI.
Desde 2021, o CTGAS-ER iniciou discussões com parceiros internacionais para formatação de programas de educação profissional de olho nos setores offshore e de hidrogênio.
Debate
O ABEEólica Debate teve como tema central “P&D e Inovação na Indústria Eólica” e foi transmitido ao vivo no YouTube, com mediação da presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum.
Além de Medeiros, do ISI-ER, participaram do debate a assessora especial da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Angela Paiva, o coordenador do Centro de Tecnologia de Energia Eólica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Leonardo Vale, o diretor técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), João Carlos Sávio Cordeiro, e o coordenador de projetos do SENAI CIMATEC, da Bahia, Walter Pinheiro.
“Um sonho”
As instituições foram convidadas a apresentar os trabalhos que desenvolvem com foco no setor eólico e, no caso do ISI-ER, o coordenador de P&D lembrou que o movimento teve início ainda em 2009, quando a equipe de pesquisas se concentrava no CTGAS-ER e atuava em consórcio com a Petrobras. O primeiro projeto, destacou Medeiros, foi “um sonho”.
“Foi o nosso primeiro projeto na área, que teve início em 2012, com o objetivo de aprimorar um aerogerador para as condições de vento do Brasil”, disse ele. “Naquela época, a gente já falava que o vento do Brasil era totalmente diferente do vento da Europa, que a gente precisava tropicalizar equipamento (adaptá-los às condições locais)”, disse ele.
Outros projetos se seguiram a esse e incluíram o primeiro Atlas eólico offshore do Brasil, desenvolvido entre os anos 2012 e 2015 com o mapeamento do recurso eólico na bacia do Rio Grande do Norte e do Ceará. “Depois desenvolvemos metodologia para medição e avaliação do potencial eólico offshore, validando esse Atlas e fazendo medições na área do Rio de Janeiro”, destacou Medeiros.
Outros exemplos com foco no setor, complementou, são o Atlas Eólico e Solar do Rio Grande do Norte – com os primeiros resultados já disponíveis ao público (clique aqui para acessar a plataforma que reúne os dados) – e o mapeamento offshore da Margem Equatorial Brasileira, que será iniciado este ano em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). “É um trabalho que deve ajudar a desvendar novas fronteiras energéticas no Brasil”, resumiu ainda o pesquisador.
SAIBA MAIS
Um estudo divulgado este ano pela ABEEólica mostra que cada R$ 1,00 investido no setor eólico no Brasil representa um retorno de aproximadamente R$ 3 para a economia. A tendência apontada para o setor é de expansão considerando novos investimentos previstos em parques eólicos em terra e também no offshore. No mar, uma análise da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estima que o setor tem potencial de gerar quase o dobro de empregos temporários e aproximadamente cinco vezes mais empregos permanentes que os parques eólicos onshore, em terra.
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