Entrevista – Consultor alemão Andreas Dohle
O consultor alemão Andreas Dohle afirma que é preciso começar a formação de profissionais especializados em manutenção de veículos elétricos. O primeiro passo no Estado foi dado. A parceria entre o SENAI-RN — por intermédio do CTGAS-ER — instituições federais de ensino de Santa Catarina e Minas Gerais, com o parceiro alemão EIC Trier -IHK/HWK- Europa- und Innovationscentre GmbH. Inicialmente está em andamento um levantamento para dimensionar o mercado. Concluída essa fase, em aproximadamente 60 dias, os cursos serão formatados.
Nesta entrevista, Andreas Dohle destaca as possibilidades que estarão abertas com essa capacitação, as perspectivas de mercado elétrico e os motivos pelos quais acredita no potencial do setor na Região Metropolitana de Natal.
Ele também defende as vantagens dos ‘elétricos’ para o transporte públicos, ao destacar que o uso de ônibus com essas características nas cidades reduziria a poluição sonora e a emissão de gases, com efeito perceptível principalmente nas regiões centrais, onde há uma quantidade mais expressiva de veículos de uso coletivo.
Em que consiste este programa desenvolvido no Rio Grande do Norte em parceria com a instituição alemã na área de formação profissional relacionada com manutenção de veículos elétricos?
Hoje temos uma parceria com três entidades educacionais, o CTGAS-ER (Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis), o Instituto Federal de Santa Catarina e o Instituto Federal do Sul de Minas para os primeiros de formação na área de eletromobilidade no Brasil. Ajudamos essas instituições a formar seus instrutores e grades de cursos para ensinar as pessoas a consertar carros elétricos. De forma sucinta, é isso. O parceiro alemão é EIC Trier -IHK/HWK- Europa- und Innovationscentre GmbH, que é uma ‘filha’ da Câmara de Comércio de Câmara Trier.
Então, haverá a formação de instrutores para capacitar profissionais nesta área de manutenção de veículos elétricos? Uma área promissora, uma vez que há procura cada vez maior por carros com essa característica…
Na verdade, é um mercado muito novo. Por isso, um dos elementos do nosso trabalho é fazer uma pesquisa de mercado, que o pessoal do CTGAS-ER está ajudando a conduzir. Com essa pesquisa, saberemos qual é a demanda real nas diversas regiões do Brasil. Vamos saber qual a mão de obra demandada, a quantidade necessária desses profissionais, os temas que precisam ser trabalhados. A partir daí, começaremos a ‘abrir uma porta’ que nunca mais vai se fechar.
É possível ter uma ideia inicial deste mercado? Em Natal, já é possível observar pessoas interessadas em carros elétricos, em saber sobre o assunto, concessionárias com procura, veículos com essas características nas ruas. Nesses estudos, há uma avaliação preliminar sobre esse mercado?
Ao terminar a pesquisa teremos essas respostas. Mas, poderia citar como referência que na Alemanha, no ano passado, um de cada seis carros novos, já foram elétricos. Posso imaginar que o Brasil vai seguir uma trilha semelhante. Cada dia podem ser vistos mais carros elétricos nas ruas. Além dos elétricos, há também os híbridos, que são opções interessantes no Brasil para quem faz viagens com distâncias maiores.
No estado e na região, há uma ‘vocação’ para energias renováveis. O Rio Grande do Norte é líder em geração eólica. Isso significa que demandará ainda mais formação para manutenção neste tipo de veículo pela característica natural de grande gerador de energia renovável? Isso estimularia o setor?
O perfil do Estado não vai interferir muito com relação à quantidade de carros elétricos. Certamente, [vai interferir] mais as distâncias que [os usuários] percorrem. Para distâncias menores, o carro elétrico é muito interessante. Como há uma concentração de população em Natal, em Parnamirim e na Região Metropolitana, isso significa necessidade de deslocamento em distâncias curtas. Então, são chances para uso [de veículos elétricos]. Acredito que vamos ter muitos carros elétricos para táxi, para Uber. Esses são perfis ideais para esse tipo de uso. E provavelmente também, no futuro, o transporte público. Especialmente, ônibus elétrico. Posso imaginar que vai fortalecer muito esse mercado.
E a cidade tem deficiências no transporte público, talvez essa tendência possa ajudar a que com melhorias nesse serviço…
E ajudaria a reduzir a poluição sonora e a emissão [de gases] nas regiões centrais da cidade. São aspectos com relação aos quais as cidades precisam melhorar e o transporte público elétrico tem uma contrição [porque são silenciosos e não emitem gás carbônico, uma vez que não têm motores a combustão].
Com a capacitação de profissionais para manutenção destes veículos, há possibilidade de ampliar a empregabilidade de quem passar por essa formação, ou seja, assegurar oportunidades de trabalho que serão oferecidas neste mercado?
Percebemos que aumenta a venda desses carros. E precisamos formar agora a mão de obra [para o setor]. Quando os carros apresentarem a necessidade de manutenção, vai ser necessário profissionais para consertá-los.
Surpreendentemente já é possível ver elétricos até em loja de usados. Cada vez mais há consumidores interessados. Naturalmente, logo precisarão de manutenção…
Percebemos a importância do item carro na vida das pessoas. E muitos carros rodam no país. Imagina se fossem 15% elétricos. Em algum tempo, haverá uma proporção deste tipo. Então, podemos imaginar a quantidade de profissionais que vamos precisar. E deverão ser profissionais especializados.
Esses profissionais formados e capacitados poderão concorrer a vagas nas concessionárias e maiores oficinas ou abrir seus próprios negócios?
Acredito… Recentemente visitei a loja da BYD [em Natal]. É nova, abriu há pouco tempo. Eles precisam formar sua mão de obra. Será muito mais vantajoso, se essa formação for em Natal, do que em São Paulo. E, sim, vão ter pessoas que vão trabalhar nos serviços de manutenção de carros [assistência das concessionárias] e os que vão abrir seus serviços independentes. Tudo isso via se estruturar. Está cedo para previsões [mais específicas]. O mercado vai se organizar.
E as concessionárias dos veículos por combustão também terão sua linha de carros elétricos para disputar esse mercado. Isso significa mercado para esses profissionais que serão capacitados?
[Terão cada vez mais] Elétricos, híbridos… Percebe-se que os lançamentos que mais chamam atenção [já] são elétricos e hediondos.
Então, os interessados devem aproveitar este momento e se preparar para as oportunidades que devem surgir?
Acredito que quem tem interesse, o profissional da área, deve se especializar, porque será mais uma oportunidade.
E a parceria com CTGAS-ER é promissora. A instituição vai desenvolver essas atividades de formação?
Escolhemos o CTGAS-ER porque já desenvolvemos a parceria para adaptação para o buggy elétrico. E foi um sucesso para a empresa Selvagem. A gente já viu que tem competência instalada no CTGAS-ER e o pessoal tem vocação para a sustentabilidade e para energias renováveis.
Há perspectiva de data para apresentar o estudo de demanda?
Acredito que nos próximos 60 dias no máximo.
E as atividades de formação profissional na área de eletromobilidade?
Isso depende da agenda de curso do CTGAS-ER. Nossa previsão é ter a formatação dos cursos em setembro ou outubro e, a partir daí, depende da agenda de cursos dos parceiros nas localidades.
O senhor gostaria de destacar mais alguma informação?
Gostaria de agradecer pela excelente parceria que a Câmara do Comércio e Indústria [de Trier] com o Sistema SENAI no Rio Grande do Norte. E a parceria que os estados do Rio Grande do Norte e da Renânia Platinada têm há muitos anos.
Texto: Aldemar Freire
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