Diretora do CTGAS-ER aponta desafios e oportunidades para ampliar participação da mulher no mercado

8/03/2024   16h19

O SENAI do Rio Grande do Norte recebeu, nesta semana, o “Selo ODS Educação” – um reconhecimento nacional público pela formação das primeiras mulheres especialistas do Rio Grande do Norte em operação e manutenção de parques eólicos. 

 

O projeto, realizado pelo Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), da instituição, em parceria com a AES Brasil, teve o objetivo de impulsionar a participação feminina no mercado, em um contexto nacional e internacional em que os homens são maioria. 

 

“Iniciativas com a perspectiva de igualdade de gênero estão gerando resultados positivos”, diz a diretora do CTGAS-ER, Amora Vieira, frisando, entretanto, que mais avanços são necessários nesse caminho. “Ainda há paradigmas a serem vencidos, do tipo que segrega ‘trabalho de homem e trabalho de mulher’, por exemplo”.

 

Amora Vieira observa que ações que buscam igualdade e equidade de gênero avançam no mercado, mas que é preciso ir além

 

Amora Vieira é bacharel em Administração com habilitação em Gestão de Negócios, pela Universidade Potiguar (UNP), especialista em Gestão da Qualidade pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Diretora do SENAI CTGAS-ER, atua na liderança da pauta de ESG para o SENAI-RN, articulando e pensando em projetos de educação para a Indústria.

 

Ela está à frente de ações do SENAI do Rio Grande do Norte ligadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo a adesão da instituição ao Pacto Global de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção da ONU.

 

Nesta entrevista, a executiva fala sobre desafios e oportunidades que a busca por redução de desigualdades no mercado traz. Confira:

 

ENTREVISTA | AMORA VIEIRA, DIRETORA DO CTGAS-ER, DO SENAI-RN

 

Como você avalia o cenário hoje para meninas e mulheres em áreas tecnológicas no Rio Grande do Norte?

O mercado para as profissões tecnológicas é acessível, mas precisa avançar mais. Há instituições, como o SENAI-RN, com investidas em ações para promover a participação de meninas e mulheres na área.  Abrimos uma frente importante pelas demandas da indústria de energia – de um lado a demanda da indústria e de outro o SENAI como provedor da solução em educação. Mas foi preciso pensar em uma estratégia de comunicação, de engajamento. Estabelecer um processo de execução que envolvesse o “despertar” do interesse, a curiosidade sobre a área tecnológica.

 

Mas é possível dizer que as ações para igualdade de gênero estão funcionando?

Iniciativas com essa perspectiva estão gerando resultados positivos. A participação feminina em cursos de energia eólica do CTGAS-ER, por exemplo, saltou de 9% para 32% entre 2018 e 2023. Dados e evidências comprovam a efetividade das ações. Projetos com alta demanda, turmas formadas e baixo índice de desistência demonstram o grande interesse das mulheres nas iniciativas e seu alto engajamento e compromisso. Entre os exemplos recentes de ações eficazes é possível citar o projeto Meninas em Ação, que estimulou o interesse de jovens estudantes por áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), a formação de mulheres especialistas em manutenção e operação de parques eólicos, que foi reconhecida nacionalmente esta semana com o Selo ODS Educação, e a participação de nossas alunas e ex-alunas em pautas jornalísticas diversas, compartilhando suas histórias e inspirando outras mulheres a seguirem carreiras em áreas tradicionalmente masculinas.

 

Os avanços nesse sentido têm sido percebidos somente na indústria de energia eólica ou  em outros setores também são visíveis?

Não somente na indústria eólica. Já tivemos a experiência de turma exclusiva de mulheres para a concessionária de energia elétrica do nosso estado. A partir desse modelo, ampliamos, desenvolvemos e incrementamos as ações de entrega de projetos em educação para mulheres. Um projeto na área de refrigeração, que realizamos com apoio da agência de cooperação alemã GIZ, também demonstra a replicabilidade do modelo em outros setores. No SENAI Mossoró, outro exemplo. A unidade está desenvolvendo a entrega de educação para turmas mistas para o segmento de Petróleo. Visualizamos que a indústria de Mineração do Estado também está promovendo ações para turmas de homens e mulheres. A nossa intenção e desejo é levar isso a todos os segmentos industriais, porque ele é real, possível, viável e há interesse das mulheres em formação na carreira tecnológica.

 

Qual é o desafio para que esse movimento avance de forma mais generalizada no mercado?

Ainda há paradigmas a serem vencidos, do tipo que segrega ‘trabalho de homem e trabalho de mulher’, por exemplo. Situações que ainda causam estranheza quando atuamos na oferta de um curso de Armador de Ferro e Pedreiro para homens e mulheres, e ouvimos coisas do tipo “quando for para fixar o ferro a gente ajuda as mulheres a fazer” – isso dito na melhor das intenções. Na verdade, o que as mulheres querem é decidir se é aquilo que querem, querem sentir, experimentar, se precisarmos de ajuda solicitaremos. Elas querem chegar ao final do dia com o sentimento do dever de ofício atendido, cansadas, mas gratificadas, e sem privilégios que limitem a sua atuação profissional por uma questão de gênero. Um outro desafio é sobre a experiência: recebo algumas “queixas” de que grande parte das vagas exige experiência prévia, e sem oportunidade não há experiência.  

 

Você diria que o aumento da participação feminina depende de que?

Depende de acreditar que é possível, de buscar se qualificar, se aperfeiçoar, de mapear oportunidades de desenvolvimento pessoal. Muitas empresas possuem projetos de  orientação profissional gratuitos para mulheres. Da inserção delas em cargos técnicos, estratégicos e compondo equipes diversas, com a sua capacidade de entrega a partir de sua competência técnica, da sua capacidade de estar onde está por mérito. Existem inúmeros exemplos de mulheres que atuam na liderança de projetos técnicos para a indústria, contribuindo com o desenvolvimento de pesquisas de ponta. 

Há um universo de possibilidades, nosso intuito não é direcionar para um lado ou para outro, mas ampliar a visão, orientar se houver interesse, e informar que há uma outra rota e que essa pode ser também o caminho possível, acessível e gratificante assim como executar uma cirurgia bem sucedida, como conseguir emplacar uma coleção para a indústria da moda. Imagina participar de um projeto hoje que visa a  produção de um combustível sustentável. Imaginar que estamos construindo hoje um futuro sustentável – olhar para trás e ter pertencido a isso?! Outras e inúmeras “Maries Curies” estão nas universidades, Centros de Pesquisas, nas Indústrias  – Elas são reais e atuais.

 

Você mencionou o Selo ODS Educação. Durante a cerimônia de entrega, nesta semana, o Instituto Selo Social, uma das instituições que concedem o reconhecimento, alertou que o caminho para que metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU sejam atingidas ainda é longo e que as instituições de ensino são “braços” fundamentais para o Brasil avançar nessa agenda. Como avalia o papel que o SENAI tem desempenhado nesse contexto e quais são as perspectivas a partir de agora? 

O SENAI-RN tem tido sua atuação reconhecida pela indústria de Energia, temos debatido em eventos do setor, levando exemplos e projetos realizados. Afirmamos a credibilidade e a responsabilidade na entrega de projetos dessa natureza, algo que é intrínseco à nossa missão e propósito. Assim endossamos nosso papel de sermos uma instituição de formação profissional para a Indústria.  Quanto às perspectivas, gostaria de perceber o movimento natural do interesse das mulheres nesse tipo de oferta, da indústria encontrando um novo significado sobre a ótica de que um ambiente diverso tem amplitude para o negócio, para o desenvolvimento de uma indústria mais competitiva.

 

Texto: Renata Moura

Foto: Divulgação

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