O CBENS, maior congresso científico e tecnológico de energia solar do Brasil, foi oficialmente encerrado nesta quinta-feira (30) em Natal e, no último dia, incluiu discussões que foram desde a resistência dos módulos fotovoltaicos ao crescimento sustentável da atividade.
Nesta sexta (31), visitas técnicas incluídas na programação também levaram dezenas de pesquisadores e pesquisadoras do país e do mundo aos laboratórios do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e ao Polo SEBRAE de Energias Renováveis.
O Congresso foi realizado entre os dias 27 e 30 no Praiamar Natal & Conventions. Esta foi a décima edição e, segundo a coordenadora do evento e pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do ISI-ER, Samira Azevedo, são diretas as contribuições para o avanço do setor.
“O CBENS é o principal canal de troca e debate científico da nossa área. Então os principais pesquisadores, as empresas que investem nisso…todas as pessoas estavam participando”, disse ela.
Discussões
Análises da espessura dos vidros e da interface moldura-vidro em módulos fotovoltaicos bifaciais – que explicam por que módulos de energia solar “trincam” e questões relacionadas à resistência mecânica dos equipamentos – análises do espectro da radiação solar em Natal e uma avaliação do modelo de pesquisa e previsão do tempo WRF, com foco no perfil do vento offshore que o Instituto SENAI está medindo na região potiguar de Areia Branca, estão entre os vários temas abordados na programação final.
Resultados desses e de outros estudos foram apresentados por pesquisadores/as do ISI e de diversas outras regiões do Brasil e do exterior. Previsões de crescimento para a atividade também foram apresentadas. “Mas como fazer isso de forma sustentável?” perguntou a professora e pesquisadora mexicana Silvana Ovaitt, do National Renewable Energy Laboratory (NREL), dos Estados Unidos.
“Uma das respostas é a economia circular”, respondeu ela em uma das plenárias no encerramento do Congresso, com o tema “Avançando na Transição Energética: Desafios e Estratégias para a Implantação Sustentável de FV”.
Entre as estratégias apresentadas, a pesquisadora apontou a “reliability” ou seja, fazer produtos confiáveis – módulos de alta qualidade e com longa durabilidade – entre as cruciais. O reuso e a reciclagem também foram mencionados.
“Os módulos vão chegar ao fim da vida mais à frente e a gente tem que se preparar para fazer o melhor com esse material”, acrescentou ela.
O CBENS reuniu pesquisadores/as e estudantes de Universidades, Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, de Institutos de Pesquisa e empresas de todas as regiões do Brasil e também dos Estados Unidos, Alemanha, Uruguai e Argentina.
A escolha de Natal como sede foi defendida pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis em 2022, durante Assembleia Geral Ordinária da ABENS, entidade promotora do Congresso.
O Instituto, sediado na capital potiguar, é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade.
Entre os argumentos que apresentou para conquistar a aprovação da cidade-sede estão as atividades que desenvolve na maior rede de institutos privados do Brasil para PD&I da indústria – a rede de Institutos SENAI de Inovação – o alinhamento dessa atuação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, potenciais locais para visitas técnicas durante o evento, infraestrutura hoteleira e turística.
Na entrevista a seguir, Samira Azevedo, coordenadora geral do evento, faz um balanço geral da edição. O CBENS foi promovido pela Associação Brasileira de Energia Solar (ABENS), com coordenação do ISI-ER e apoio da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), do SENAI-RN, da Prefeitura de Natal, do Polo SEBRAE de Energias Renováveis, do CNPQ, do governo do estado, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec), do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Norte (CREA-RN), da UFRN, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e do Centro de Estratégias em Recursos Naturais & Energia (Cerne). Foram patrocinadores a Petrobras, o governo federal, o Banco do Nordeste, a Campbell Scientific, a dualBASE e a RoMiotto Instrumentos de Medição.
ENTREVISTA | Samira Azevedo – coordenadora do CBENS e pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do ISI-ER
Que apanhado você faz dessa edição do CBENS?
Primeiro, a gente teve uma demanda muito grande por capacitação. A procura pelos minicursos oferecidos no primeiro dia superou todas as expectativas, com o número de participantes quadruplicado em relação ao inicialmente esperado. Em segundo lugar, a gente conseguiu trazer temas muito atuais e relevantes para o debate, com pessoas que eu posso dizer que são os melhores especialistas na área para esses assuntos. E os debates foram riquíssimos. Até no último dia a gente viu um comparecimento muito grande de pessoas procurando todos os temas abordados. Fiquei surpresa com o sucesso que foi em termos de participação, tanto em quantidade de público quanto nos debates do público com os palestrantes. Ao final de cada plenária, de cada mesa redonda, ficava aquela sensação de que todo mundo queria ainda conversar mais, queria debater mais. Então a gente viu que alinhou as expectativas também dos direcionamentos que eles estão seguindo nas empresas, que o que foi debatido é o que está nas estratégias também deles. Foi maravilhoso nesse sentido, de ter acertado nos temas, nas pessoas que falaram sobre os temas e ver a quantidade de pessoas procurando participar do congresso.
E o que você diria que fica de contribuição e de desdobramentos, em termos de colaborações entre institutos de pesquisas, de novas frentes de pesquisa, enfim, do que traz para o mundo da pesquisa?
Esse evento é o principal canal de troca e debate científico da nossa área. Então os principais pesquisadores, as empresas que investem nisso…todas as pessoas estavam aqui, participando do CBENS. Falando um pouco da nossa casa, que é o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, eu acho que saímos do evento ainda mais reconhecidos como instituição de pesquisa na área porque muita gente que não associava o nome SENAI à pesquisa começou a enxergar a quantidade de projetos e a pesquisa que a gente vem fazendo. A expectativa então é que surjam muitas colaborações. A gente está se inserindo em uma rede de inúmeras colaborações tanto nacionais, quanto internacionais agora, na área da energia solar. Eu acho que haverá muitos frutos nesse sentido para o nosso Laboratório de Energia Solar, mas não apenas para ele porque, hoje, a gente está num mundo onde está tudo integrado, então é eólica com solar, solar com sustentabilidade, solar para produzir hidrogênio. Esperamos que isso se desdobre ainda em outras outras parcerias também.
E quando a gente fala da questão mais aplicada, do que impacta diretamente o público? As discussões no Congresso abordaram temas muito diversos que foram, por exemplo, de “trincas” nos módulos, à resistência, eficiência e do que fazer com esses equipamentos após a vida útil. Todas essas discussões vão contribuir de que maneira para quem gera e consome a energia solar?
A gente discute todas as problemáticas do setor na busca de melhorias. Seja na melhoria do uso final da tecnologia, que seria como a gente vai reciclar (os módulos), por exemplo? qual a melhor maneira de fazer isso? Seja buscando entender o que já está sendo feito no mundo e tentando fazer da melhor forma possível e melhorar o que a gente já tem em questões de eficiência, em questões de melhores usos, de melhores práticas e conhecendo quais são os cases de sucesso que a gente pode adotar, quais são as lições aprendidas. Tudo é discutido no Congresso, nos pôsteres, nas plenárias e nas apresentações orais. É tudo o que há de mais novo e atual. São todas as inovações que existem.
Análises sobre o setor de energia solar apontam que a atividade vive um “crescimento exponencial”. Se debruçar sobre todos esses desenvolvimentos e sobre as lacunas a serem preenchidas influencia como esse ritmo?
É uma contribuição bem direta para que esse crescimento se mantenha por muito tempo. O crescimento da energia solar é uma tendência que não tem volta, porque essa é a tecnologia do futuro. Então o que a gente vai precisar melhorar é como usar isso da melhor forma, como não fazer dessa tecnologia algo que impacte negativamente outro setor, como associar isso da melhor forma aos outros setores. Sempre, na tentativa da evolução e da transição energética. O Brasil é um país onde já se tem muita energia limpa, mas a gente ainda pode ser produtor de muito mais energia. A gente pode ser um exemplo ainda muito maior para o resto do mundo, porque aqui tem muita área, muito potencial e complementaridade. E a gente está em crescimento. A gente teria energia para usar para o nosso desenvolvimento.
Texto: Renata Moura
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