Todo desfile tem uma coleção que se destaca. Mas não foi o que aconteceu desta vez no desfile de encerramento do curso de Estilo do SENAI Moda RN. Ao longo das apresentações das peças que ganhavam à passarela a sensação era de que elas se complementavam. As cores, do frio ao quente. Os temas, do protesto ao histórico. A versatilidade, o movimento dos tecidos, tudo transmitia harmonia. O evento foi realizado no último sábado (4), no Salão Nobre do Palácio Potengi, a Pinacoteca do Estado.
Talvez isso tenha sido possível pelo tema ‘Brasilidade’, que inspirou os estilistas; talvez por ser a conclusão de curso e unir o saudosismo da turma. O fato é que, no desfile, cada artista de moda do SENAI-RN expressou seu potencial criativo, e mostraram juntos que de onde saiu suas coleções pode vir muito mais.
As coleções apresentadas fazem parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Estilo do Centro de Educação e Tecnologias Clóvis Motta – um dos cinco centros do SENAI no Rio Grande do Norte -, e são as assinadas pelos alunos concluintes. Todas as criações foram orientadas pela estilista e professora do SENAI Moda Jéssica Cerejeira, e executados pelos estudantes. O evento contou com a parceria da Fundação José Augusto, Governo do RN, Tráfego Models, Anne Passos Coiffeur e Zittur.
Confira um pouco sobre cada coleção e em que os estilistas se inspiraram.
A ‘Coleção Planos’, da estilista Cindy Lemos; se inspirou em Lygia Clark, pseudônimo de Lygia Pimentel Lins, que foi uma pintora e escultora brasileira contemporânea que se autointitulava ‘não artista’. Mas na verdade uma grande artista dos anos 50, neoconcretista. “Eu trouxe algumas características das obras dela para a coleção. Trabalhei com as cores preto e offwhite, que além de serem cores comerciais eram as cores que a artista usava em suas obras”, diz Cindy Lemos.
A ‘Coleção Fressura’, do estilista Marcone Soares; foi inspirada na artista Adriana Varejão. Sua obra reproduz elementos históricos e culturais, com temas ligados à colonização, ao barroco e à azulejaria. Investiga também a utilização do corpo humano, da visceralidade e da representação da carne como elemento estético. “Fressura, na linguagem mais comum, é traduzida por bofe, das entranhas de algum animal. Quando pensei em brasilidade foquei nos processos de colonização e processos violentos de apagamento e de exclusão de certos corpos, e como isso poderia ser trazido para a coleção”, explica o estilista. Ele acrescenta que a coleção é um reflexo das obras de Varejão. “Quase que um açougue, pensando em que corpos estão vestindo essas peças, que corpos estão hoje nesse lugar de margem, esse é um resumo da coleção”, enfatiza.
Já a ‘Coleção Memórias da Tapera’, da estilista Lu Galvão; é inspirada no Sítio Tapera, e trabalha memórias e emoções. “Este sítio é toda uma história da minha família, e nós estamos resgatando todas essas memórias. A proposta da marca é resgatar todas as emoções, tudo que foi vivenciado e trazer isso para os acessórios, o que a gente puder vestir, e passar essa identidade”, destaca Lu Galvão.
Na ‘Coleção Seu Olhar’, o estilista Daniel Marques se inspirou em Elke Maravilha. Elke Grünupp, mais conhecida como Elke Maravilha, modelo, jurada, apresentadora e atriz teuto-brasileira (descendentes alemães). “Eu me inspirei muito na autenticidade dela, no estilo, como ela transmitia a moda na forma de se vestir. Eu queria trazer isso para minha coleção”, diz Daniel Marques.
A ‘Coleção Colibris’, da estilista Milca Nascimento; é inspirada na música Colibri, do cantor Osvaldo Montenegro. “A clareza dos seus olhos, reflete o colibri, que voa sem saber da beleza do colibri…”; e em ‘A fala da cor da dança do beija-flor’, do autor Assis Brasil. Nesta obra, o autor reúne dois contos que abordam a importância de aprender a conviver com a natureza e como é possível preservá-la. “Eu me inspirei numa música no clássico infantil. Pretendi mostrar a natureza e a leveza do pássaro beija-flor, que existem muitos diferentes na fauna brasileira. Um pássaro tão leve e tão grandioso” destaca Milca Nascimento.
A ‘Coleção Nísia e a luta pelo feminino’, da estilista Isabela Cristine está bem focada no momento atual, já que no dia 8 se comemora o Dia Internacional da Mulher. Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi uma educadora, escritora e poetisa brasileira. Primeira na educação feminista no Brasil, com protagonismo nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais. “Ela foi uma mulher que lutou pelas mulheres, principalmente pela educação das mulheres que era negada na época. Mas eu não quis fazer associações muito obvias, então eu trouxe o vermelho do sangue das mulheres que foi derramado, que remete à luta. Trouxe elementos em assessórios, corujas, elementos que remetem à mulher. Trabalhei mais com o simbólico do que com o explícito”, conta a estilista.
Na ‘Coleção Permita-se’, estilista Dali Ramalho; aparece a energia das cores que são fortes no Brasil. Com a presença dos tons de fúcsia avermelhado e suas paletas, a coleção entra na passarela para irradiar alta energia, em harmonia com o comunicado da Pantone sobre a cor para o inverno 2023. “Me inspirei na diversidade da moda brasileira. Resolvi trabalhar com estampas. E usamos ‘gêneros’, estampa nossa, como estampa mãe, usando as cores que são referência agora na coleção outono inverno”, diz Dali.
A ‘Coleção Florescendo com o Curimataú’, da estilista Leni Soares é inspirada no Curimataú, região do Semiárido, terra seca, típica do calor e do sertão. “Eu trouxe o regional, todos os bordados como rococó, ponto livre, ponto cheio. Também usei tecidos naturais, linho, algodão. Enxuguei a criação para não usar produtos sintéticos ou com polipropileno. Evitei isso, porque quero progredir com minha marca utilizando produtos naturais, para que a pessoa tenha conforto e qualidade”, afirma Leni.
Av. Senador Salgado Filho, 2860 - Lagoa Nova - Natal/RN - CEP: 59075-900