Um acordo de cooperação técnica oficializado nesta quinta-feira (16) entre o Sistema FIERN, por meio do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), e a Agência Espacial Brasileira (AEB), pretende impulsionar o desenvolvimento inédito e a expansão do uso de tecnologias como satélites e radares no setor nacional de energias renováveis. Os desdobramentos esperados com a parceria, entretanto, vão além desse campo e envolvem desde impulso à formação de pessoal especializado nessas tecnologias – para atuação nas usinas que se espalham pelo Brasil – até transformar o país da condição atual de importador para a de exportador de tecnologias espaciais voltadas às energias.
O acordo tem como objeto geral o estabelecimento de ações conjuntas com foco na aplicação de tecnologias, produtos e serviços espaciais ao setor – o que, segundo as instituições envolvidas, acontece atualmente de forma incipiente e com o uso de tecnologias estrangeiras, importadas, por exemplo, dos Estados Unidos e da Europa. A duração da parceria será de 36 meses e deverá estimular atividades que também devem repercutir nos campos da qualificação profissional e do mercado de trabalho.
“Para aproveitar as oportunidades do setor espacial precisa-se de mão de obra, da parte de educação, que o SESI e o SENAI trabalham muito bem”, disse Hebert Kimura, diretor de Inteligência Estratégica e Novos Negócios da AEB, durante reunião na Casa da Indústria para formalização do acordo com o ISI-ER. O acordo foi formalizado pelos presidentes da Agência, Carlos Moura, e do Sistema FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN, Amaro Sales de Araújo.
O ato também contou com a participação do diretor de Gestão de Portfólio da AEB, Paulo Roberto Braga Barros, do coordenador da Agência em Natal, Marco Rezende, do diretor regional do SENAI-RN, Emerson Batista, do diretor do SESI-RN, Juliano Martins, do diretor do ISI-ER e do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis, Rodrigo Mello, e do coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento do ISI, Antonio Medeiros.
No início da semana, a comitiva da Agência esteve em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Natal, para conhecer o programa de robótica desenvolvido por alunos do ensino fundamental e médio na SESI Escola, a escola modelo do SESI no Rio Grande do Norte que, segundo o superintendente, Juliano Martins, quer se tornar referência para todo o Brasil.
“Nós estivemos no SESI e ficamos empolgados com o que vimos, porque eles fazem coisas na escola que podem ser aplicadas no espaço”, frisou Kimura, da AEB, ressaltando a importância de despertar o interesse dos jovens para as possibilidades de atuação no setor. “Nós temos cursos de pós-graduação na área, mas também precisamos de graduandos na área, de técnicos na área, do pessoal do ensino médio e do ensino fundamental interessados nisso e um dos papeis da Agência é motivar e incentivar a juventude a seguir essas carreiras”, complementou o diretor.
O intuito da visita no SESI foi a apresentação do programa de robótica à equipe da Agência visando parceiras tanto no âmbito nacional quanto no internacional, disse o gerente da unidade educacional, Anderson Vieira. “A equipe ficou maravilhada e neste primeiro momento fomos convidados a conhecer juntamente com os alunos os projetos educacionais desenvolvidos pelo Programa Espacial, com intuito de despertar nessas crianças e adolescentes o interesse pela ciência, tecnologia, pesquisa e carreiras na área espacial”.
Energia
Especificamente quanto ao acordo de cooperação técnica firmado com o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis nesta quinta-feira, a intenção é ampliar a oferta de dados fundamentais para investimentos do setor, com equipamentos que permitem “medir de cima” o potencial de geração de energia limpa e outras variáveis em áreas maiores e mais remotas, como o mar – onde há, até o momento, perspectivas de implantação de parques eólicos em pelo menos seis estados, incluindo o Rio Grande do Norte, maior produtor brasileiro da chamada energia dos ventos, em terra, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABBEólica).
“Para a Agência Espacial Brasileira, que é responsável por desenvolver o Programa Espacial e resolver problemas da sociedade brasileira, é importantíssimo ter uma conexão com entidades como o ISI-ER, que tem muita sinergia com o trabalho que fazemos”, disse o presidente da Agência, Carlos Moura.
A AEB terá papel de articuladora no projeto. Ao ISI-ER – principal referência do SENAI no Brasil para pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco em energias renováveis – caberá atrair empresas que queiram investir no desenvolvimento das tecnologias espaciais de olho no setor. Mas não só isso.
“A médio prazo pretendemos participar do lançamento de satélites com sensores capazes de gerar informações para melhorar a qualidade dos dados que nós produzimos em terra”, diz o diretor do ISI-ER e do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), Rodrigo Mello, ressaltando que o Instituto sediado em Natal é o único órgão no Brasil que faz medições propriamente ditas no mar, para realizar previsões de geração de energia. “E esse projeto vai trazer perspectiva de melhora de qualidade desses dados, pois nós estaremos gerando (energia) aqui em baixo com uma visão lá de cima”, reforça.
A doutora em meteorologia e pesquisadora do ISI-ER, Samira Azevedo, observa que satélites e produtos gerados por eles são atualmente usados no Brasil em aplicações que vão desde o monitoramento do desmatamento e de queimadas, passando por estudos de rugosidade de terrenos, uso e cobertura da terra até previsões numéricas do tempo.
“No caso da cadeia de desenvolvimento das energias renováveis, existe uma demanda para se conhecer o potencial energético seja de radiação, chuva ou vento e na maioria das vezes, esses estudos precisam de um grande aporte econômico para serem viáveis, com a instalação, por exemplo, de uma estação meteorológica equipada com diversos sensores. Se pensarmos em medição desses parâmetros no mar, esses valores são ainda mais elevados”, diz ela. Com essa cooperação, espera-se o levantamento de dados voltados a mapeamento do potencial energético através de tecnologias satelitais e com isso o desenvolvimento de diversos produtos aplicados às fontes renováveis.
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