Diretores da agência alemã GIZ visitam o RN e olham para além do hidrogênio verde

8/07/2024   10h58

O avanço da pesquisa aplicada e de ações de educação para impulsionar a transição energética no Brasil foi apresentado sábado (29) por pesquisadores do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e a diretora do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) do SENAI-RN, Amora Vieira, aos principais executivos da agência pública de cooperação alemã GIZ na condução de projetos no país.

 

A reunião foi realizada no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI, em Natal, com a participação do diretor da divisão da GIZ para Ásia, região do Pacífico, América Latina e Caribe, Matthias Giegerich, do diretor do projeto H2Brasil, implementado pela GIZ Brasil e coordenador da área de Energia da empresa alemã, Markus Francke, e do coordenador no H2Brasil, Marcos Costa.

 

Na primeira visita ao Nordeste brasileiro e cerca de 16 anos depois de desembarcar pela primeira vez no país, Giegerich ressaltou que o objetivo é ver, em campo, como a agência está implementando os projetos no país e o que pode aprender com a experiência brasileira.

 

 

Parcerias no RN

 

A inclusão do Rio Grande do Norte no roteiro não foi por acaso. O estado, maior produtor brasileiro de energia eólica em terra e uma das zonas mapeadas em estudos técnicos como mais promissoras para energia eólica offshore e hidrogênio renovável, é também o berço de dois projetos pioneiros no Brasil com investimentos da agência: uma planta piloto para produção de SAF (combustível sustentável de aviação) e um centro nacional de excelência em formação profissional para hidrogênio verde – ambos, no SENAI.

 

“Essa é uma visita que tem como foco especialmente o setor energético, o que estamos fazendo enquanto GIZ e com quem estamos trabalhando”, disse Giegerich. “E essa parceria com o SENAI é uma parceria com a qual também podemos aprender, enquanto organização, enquanto instituição similar, que opera sem fins lucrativos. É muito interessante, para mim, ver como o SENAI se organiza, todo o desenvolvimento que apresentou nos últimos anos, as parcerias com a iniciativa privada, muito intensivas com o setor industrial, e agora, estamos analisando para onde podemos ir com a instituição nessa longa parceria que nós temos. Ainda temos projetos em que há possibilidades de atuarmos juntos”, acrescentou o economista.

 

 

O potencial de geração de energia eólica, oportunidades e desafios que existem ligados à sustentabilidade, o progresso tecnológico na área e o modelo de negócio do SENAI-RN nesse contexto, baseado no relacionamento próximo às indústrias, estiveram entre os principais pontos na pauta da reunião. Os laboratórios implantados na instituição por meio de projetos com a agência alemã também foram visitados.

 

O investimento na infraestrutura dos centros de pesquisa e de educação do SENAI, em Natal, foi viabilizado por meio do Projeto H2Brasil, que integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e Ministério de Minas e Energia (MME) e financiado pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. O projeto será concluído no final deste ano. Novos planos de investimento são analisados e vão além do hidrogênio.

 

Para além do hidrogênio

 

“É difícil detalhar os planos da GIZ por agora, diante de tantas variáveis”, disse Markus Francke. “Mas eu diria que um ponto, na minha perspectiva, é que a concentração (das ações) no hidrogênio verde precisa mudar um pouco para a concentração em um novo mercado de carbono. Não devemos olhar só para o hidrogênio verde, que é apenas um meio entre os possíveis para criar esse novo tipo de transição energética”.

 

Um dos principais temas futuros para o Brasil, na análise ele, seria justamente “combinar o potencial enorme que o país tem em hidrogênio verde com o grande potencial que também tem em fontes de carbono e criar um mercado próprio para os derivados que irão surgir”.

 

“Não apenas para exportação, mas também para uso nacional. Há muitas aplicações possíveis para esses produtos e isso pode criar muitos postos de trabalho, e postos de trabalhos sustentáveis com alto nível de qualificação, o que inclui profissionais de engenharia, técnicos e diversas outras áreas”, disse Francke.

 

 

Na passagem pelo Rio Grande do Norte, os executivos também visitaram o Complexo Eólico Gameleiras, da CPFL Renováveis, como meio de mergulhar mais a fundo, segundo Giegerich, em um dos campos de atuação do SENAI.

 

Em parceria com a empresa, o CTGAS-ER formou, neste ano, a primeira turma de pessoas indígenas para atuação em parques eólicos. Mas a visita para ver as turbinas da empresa instaladas em Touros, a 87 km de Natal, não é exatamente uma pista de que os próximos passos da agência alemã no Brasil passam também pela energia dos ventos.

 

“A GIZ não seleciona os temas que serão trabalhados no país. Isso sempre depende de uma negociação governo-governo, entre o Brasil e a Alemanha, de um acordo sobre o que gostariam de trabalhar no futuro”, explica Markus Francke.

 

Projetos da agência, em curso ou com previsão de largada no país até o início do próximo ano, envolvem apoio para a substituição de combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis na eletrificação da região Amazônica, no setor industrial e no setor de transportes.

 

“Há muitas indústrias em que, em vez de usar combustíveis fósseis, é possível fazer o uso direto da eletrificação, com efeito na descarbonização do Brasil”, explica o diretor no país, se referindo à expectativa de redução de emissões de gases do efeito estufa – especialmente do CO2, o mais abundante deles – com esse tipo de iniciativa.

 

Os trabalhos também se voltam à promoção do que chama de transição energética justa, social e adequada no país. “É um projeto bastante complexo de como criar uma eletrificação estável no país, para a indústria e também para as pessoas”, diz Francke.

 

SAIBA MAIS – Os projetos do SENAI com a GIZ

 

Centro de Excelência

 

O SENAI e a GIZ inauguraram, em 29 de fevereiro deste ano, o primeiro “Centro de Excelência em Formação Profissional para Hidrogênio Verde” do Brasil.

 

A estrutura envolve estações de ensino capazes de mostrar – em condições reais de operação – desde a geração de energias renováveis para produção de hidrogênio verde até a obtenção e a aplicação prática do produto.

 

O laboratório implantado para aulas, experimentos e outras atividades voltadas à educação, está em operação no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, em Natal.

 

O Projeto H2Brasil, que deu origem ao Centro de Excelência para formação de profissionais para o setor, também viabilizou a implantação de cinco hubs regionais de educação e treinamento em Centros especializados do SENAI no Ceará, Paraná, Bahia, São Paulo e Santa Catarina.

 

O desenvolvimento dos laboratórios e o treinamento das equipes de instrutores/as nos seis estados receberam um total de 2,6 milhões de euros em investimentos – o equivalente a R$ 14 milhões.

 

Planta piloto

 

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável inauguraram oficialmente, em 5 de setembro de 2023, o Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados (H2CA) – primeira planta piloto do Brasil para produzir combustível sustentável de aviação (SAF, sigla em inglês para Sustainable Aviation Fuels).

 

O projeto representa um investimento de 1,4 milhão de euros (o equivalente a R$ 7,46 milhões) e tem, entre os principais objetivos, chegar a um combustível que ajude a reduzir as emissões de gases do efeito estufa no transporte aéreo brasileiro. A infraestrutura foi instalada no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI do Rio Grande do Norte, a sede do ISI-ER, na capital, Natal, onde amplia a produção do insumo e, segundo fontes do mercado, abre novos horizontes para a indústria de aviação.

 

Texto e fotos: Renata Moura

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