A transição energética no Brasil, na Europa e no mundo foi discutida nesta sexta-feira (1º), em Natal, no workshop de encerramento do Projeto H2Verde, que integra a cooperação entre o Brasil e a Alemanha.
O assunto foi o ponto central em duas palestras do evento, realizado desde ontem no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN.
No primeiro dia, a programação contou com apresentações dos principais resultados do H2Brasil – incluindo a inauguração do primeiro Centro de Excelência em Formação Profissional para Hidrogênio Verde do país.
A estrutura vai funcionar no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN.
Transição
Já no segundo e último dia do workshop, nesta sexta, os “Desenvolvimentos na transição energética no Brasil” foram apresentados pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador bolsista dos Institutos SENAI de Inovação em Sistemas de Sensoriamento e em Engenharia de Polímeros, Paulo Smith Schneider.
“Transição energética é uma mudança. No senso comum, quando você pensa nisso você pensa em passar de combustíveis fósseis para combustíveis não fósseis ou para tudo aquilo que seja renovável e que descarbonize”, disse o pesquisador, fazendo um alerta sobre o “senso de urgência” que tem percebido nesse processo.
Ele observou que desde a primeira Revolução Industrial até o que seria a quinta Revolução – relacionada à transição energética – “os tempos, os períodos, estão cada vez mais curtos e isso dá uma sensação enorme de urgência, quase de ansiedade também, e mudanças abruptas são muito perigosas”.
“Quando a gente fala da transição energética a gente está um pouco brincando com fogo. Nós estamos nos colocando em emergência, de ter atitudes muito rápidas, e talvez não funcione”, frisa, complementando que a atual transição envolve uma “mudança quase completa” das bases energética e financeira, da relação com o planeta e com a sociedade, além de hábitos e costumes.
“A gente está passando por uma mudança estrutural, exigida num período muito curto. Antes, ia-se lentamente substituindo a força animal pela força mecânica, aí vinha a biomassa, depois passando pelo carvão, depois pelo petróleo. Enquanto hoje a gente diz ‘eu vou riscar do mapa tudo isso, e vou colocar coisas novas em muito pouco tempo, para um mundo muito complexo, com muita gente, com bilhões de pessoas”.
Schneider falou sobre metas, desafios e tendências. Exibiu dados sobre toneladas de gás carbônico que precisam ser retiradas da atmosfera e ressaltou que, para o Brasil, “regular o uso da terra” é fundamental nesse contexto. “Tem que olhar o uso da terra para ser efetivo”.
Marc Bovenschulte, diretor do Institute for Innovation and Technology, da Alemanha, abordou, por sua vez, os “desenvolvimentos relacionados à transição energética na Europa e no mundo”, especialmente nos campos da educação e em tendências gerais e geopolíticas com foco em hidrogênio verde, energia eólica e solar. Ele participou por meio de videoconferência, conectado a partir de Lima, capital do Peru.
Conhecimentos
Um dos destaques do professor em relação ao hidrogênio verde foram os diversos níveis de conhecimentos e habilidades necessários no mercado. As áreas de segurança, de análise de mercado e desenvolvimento de negócios, incluindo processos de regulamentação e aprovação, além de estudos de viabilidade estão entre as que apontou como chaves.
Conhecimento tecnológico específico do setor para fabricação de máquinas e equipamentos como eletrolisadores, células de combustível, tubulações, e tanques, para produção e aplicação do hidrogênio verde, além de conhecimento jurídico, administrativo e de processos para as autoridades públicas também foram citados.
“E vale mencionar que as tecnologias de energia renovável e de hidrogênio verde têm uma parte forte de digital. Isso é uma coisa que normalmente se esquece, mas toda a produção é através de sistemas automatizados”, acrescentou, chamando a atenção para a necessidade de habilidades específicas na área.
Com relação a perspectivas econômicas, ele observou, a partir de projeções da IEA (Agência Internacional de Energia), que a demanda global por hidrogênio verde deverá aumentar quase seis vezes, para 530 milhões de toneladas no ano 2050, puxada, principalmente, por indústrias de produção de aço e química e pelo setor de transportes.
O diretor estimou, ainda, que a produção de hidrogênio verde deverá desencadear uma série de oportunidades para os fabricantes de máquinas, com as maiores quotas de mercado previstas para eletrolisadores e células combustíveis.
A apresentação reforçou que políticas industriais, desenvolvimento científico-tecnológico e educação devem contribuir para esta opção de geração de valor e emprego. Também destacou o avanço das energias renováveis na Europa e a disparada da China no setor.
SAIBA MAIS
O Projeto H2Verde é o eixo de educação profissional do Projeto H2Brasil, que integra a cooperação entre os governos do Brasil e da Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), financiado pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. O objetivo, segundo as instituições envolvidas, é apoiar a expansão do mercado de hidrogênio verde e seus derivados no Brasil.
Estiveram presentes nas palestras o vice-presidente do Projeto H2Brasil, Andrej Frizler, o analista de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Hugo Agra, outros representantes da GIZ e de departamentos regionais do SENAI de diversas regiões do país.
Texto: Renata Moura
Fotos: Tiago Lima
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