“O Brasil tem o ambiente perfeito para ajudar a descarbonizar a economia mundial” e deve exercer papel fundamental nesse sentido com a futura produção de hidrogênio, disse, em Natal, o diretor do International PtX Hub, do governo da Alemanha, Torsten Schwab, em palestra realizada no Fórum Internacional de Hidrogênio Renovável, H2Tech, na Casa da Indústria.
O evento, promovido pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), reuniu especialistas do Brasil e da Alemanha durante dois dias para discutir tecnologias, transição energética, além de desafios e oportunidades para redução das emissões de carbono e de outros gases do efeito estufa.
A palestra “The future role of renewable hydrogen” (O futuro papel do hidrogênio renovável, em tradução livre), ministrada por Schwab, foi uma das que marcaram o último dia do evento, com uma série de dados e reflexões sobre cenários em que a economia do hidrogênio desponta.
O especialista apontou o Nordeste do Brasil – onde está a maior geração nacional de energia eólica e uma das maiores potências de energia solar – como estratégico para o alcance de metas globais de descarbonização.
Ele também citou a abundância nacional de biomassa como chave nesse processo e fonte de oportunidades promissoras. A razão, explicou, é que “toda a biomassa que tem no Brasil é fonte perfeita de carbono renovável – um elemento importante da desfossilização” que o mundo busca.
“Baú de ouro”
“Hoje o carbono vem muito de petróleo, carvão e gás natural e no futuro esse carbono tem que ser renovável”, frisou Schwab. “O gargalo da indústria futura vai ser de onde pegar esse carbono. E aí o Brasil está sentado em cima de um baú cheio de ouro, porque o mundo vai querer carbono renovável e muitos lugares do mundo não têm carbono suficiente”, complementou.
De acordo com o especialista, a tarefa da humanidade hoje é sair de carvão, petróleo e gás natural, ou seja, desfossilizar a economia, e o Brasil é um dos locais que podem fornecer os elementos necessários para tanto.
“O Brasil tem energia solar, energia eólica, tem biomassa, que é uma grande fonte de carbono renovável, além de outras matérias-primas. O país tem volume, tem tamanho para abastecer o mercado mundial de produtos não fósseis”, disse, reforçando que “a posição é perfeita para o país se tornar um grande parceiro nisso”.
“Quando se olha para a economia do hidrogênio verde, o que está no fundo é a desfossilização de toda a economia mundial. Ou seja, a gente tem que sair de carvão, petróleo e gás em algum momento e quanto mais cedo esse momento chegar maior a chance de a gente salvar o planeta”, pontuou ainda, em entrevista após a participação no Fórum.
Demanda
A palestra “The future role of renewable hydrogen” convidou o público no auditório a enxergar “uma imagem não do amanhã, mas do depois do amanhã”. “Como é que a gente faria se alguém fechasse a torneira de carvão, petróleo e gás e dissesse ‘isso é proibido, não tem mais?’”, questionou Schwab durante a apresentação.
No cenário que apresentou à plateia, o mercado mundial de hidrogênio renovável foi desenhado com “uma demanda tão grande, mas tão grande” e passível de se desenvolver ainda mais de acordo com a disponibilidade do produto. O Brasil apareceu projetado nesse contexto como polo estratégico para ajudar a satisfazer a demanda.
“O país tem o queijo e a faca na mão”, disse o especialista. “Os lugares que têm capacidade de dar contribuições de peso ao setor têm muito sol, muito vento, conhecimento técnico e capacidade intelectual. É o ambiente perfeito para ajudar a descarbonizar a economia do futuro”, frisou.
“E o Nordeste do Brasil tem o sol que precisa, o vento que precisa, experiência na instalação dessas tecnologias e proximidade geográfica com Estados Unidos e Europa para escoar melhor o produto”, acrescentou ainda.
Fórum
O H2Tech foi realizado na semana passada como parte da programação em comemoração aos 70 anos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN). O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis faz parte do Sistema FIERN, por meio do SENAI-RN.
“O evento trouxe todas as temáticas relacionadas ao hidrogênio e interrogações que pairam sobre o setor”, resumiu a pesquisadora do ISI-ER e coordenadora do evento, Fabiola Correia de Carvalho.
“Ficou muito claro que o que vai fazer parte de fato da descarbonização do Brasil, da nossa transição energética, é trabalhar com todas as tecnologias (de produção do hidrogênio juntas) e no Fórum a gente teve várias visões diferentes dessas tecnologias e de como o hidrogênio entraria de fato dentro desses possíveis cenários de descarbonização”, acrescentou.
Segundo a pesquisadora, a principal mensagem deixada pelo evento é “a ideia de que o Brasil é muito grande, é muito diverso, e todas as tecnologias vão se juntar para promover a descarbonização do país”. “Muitas vão partir de energia limpa, de eólica e solar, mas a gente tem também o hidrogênio partindo da biomassa, o hidrogênio partindo da captura de CO2 e a gente tem no Brasil infraestruturas enormes desses outros hidrogênios e tem também matéria-prima disponível, que é o que a maioria dos outros países não tem”.
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