Wellen Fernanda de Sousa, 22, dá um passo à frente na sala de aula, sorri e busca na memória o que a impulsionou para o que chama de “paixões” e “oportunidades”: a formação técnica e, hoje, ter o próprio negócio.
Quatro anos antes, no mesmo prédio – a sede do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, em Natal, veio “o estalo”. Ela estava em meio a dezenas de mulheres e meninas, cercada de equipamentos que hoje se espalham pelo mundo nos telhados, quando enxergou o futuro na indústria de energia solar – uma das frentes em energias renováveis que aceleram. Ela tinha ainda 17 anos.
“Eu estava em um workshop chamado Mulheres de Energia”, relembra. No evento, promovido por meio de parceria entre a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), o SENAI, o CTGAS-ER e a Agência Alemã de Cooperação Internacional GIZ, ela ouvia a meteorologista Samira Azevedo – doutora em Meteorologia e pesquisadora líder do laboratório de Energia Solar do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) – e a engenheira Laís Valadares compartilharem as próprias trajetórias.
“As histórias delas, até chegarem aonde estão”, foram vistas como “inspiradoras”. “Elas deram palavras de incentivo, falaram das suas experiências e me motivaram a seguir carreira na área”, frisa a empresária, em entrevista concedida à Unidade de Comunicação do Sistema FIERN para o Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta terça-feira, 8 de março. (Assista, em vídeo, no perfil do CTGAS-ER no Instagram).
Desigualdade
Na data de hoje, em que a Organização das Nações Unidas (ONU) lembra que o mundo “não pode sair da pandemia com o relógio girando para trás na igualdade de gênero”. E que as mulheres, dentro e fora da indústria de energia solar, ainda se veem em meio a desafios, desigualdades e preconceitos que dificultam o alcance desse objetivo, uma história como a de Wellen merece destaque.
Dados da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (MESol) apontam que as mulheres correspondem a aproximadamente 20% da força de trabalho na atividade, no país, que as regiões Norte e Nordeste concentram a menor fatia desse público e que profissionais jovens, com até 30 anos, predominam entre elas. Mas em um mercado em que são minoria e em que essa participação tem encolhido desde 2019, há uma série de nós a serem desatados.
Gargalos
“Existem desafios nesse cenário, e entre eles estão ajudar meninas e mulheres a perceberem a oportunidade, a possibilidade, que o setor pode ser uma opção. Outro é viabilizar o acesso delas, por meio da educação e de outras formas de incentivo”, diz Amora Vieira, assessora de mercado e projetos do SENAI-RN – que, no CTGAS-ER, tem liderado ações para promover a diversidade na instituição e em cursos como o de energias renováveis.
Questões que mostrem o que são essas profissões, estratégias para capilarizar o acesso à educação profissional para outros municípios, fora das regiões metropolitanas – e com a infraestrutura necessária – estão entre os desafios sobre os quais, diz ela, o SENAI-RN está debruçado.
Outros nós para promoção da diversidade também estão no radar do setor. “Um dos grandes gargalos para inserção e permanência da mulher no setor de energia solar é a questão do preconceito, machismo e a falta de credibilidade que elas enfrentam na atuação profissional”, diz Natália Chaves, co-fundadora da MEsol, em podcast sobre empregos, oportunidades e participação feminina, gravado pela Associação Brasileira de Energia Solar (ABSOLAR).
“E quando a gente identifica isso, a grande oportunidade que a gente tem é exatamente a de encorajar para que as mulheres não desistam da atuação profissional no setor, porque elas têm grande potencial de atuação, são altamente capacitadas e tem expansão no setor, tem espaço para que todo mundo consiga colaborar”, acrescenta.
Apoio
Wellen de Sousa sempre foi incentivada pela família a seguir o que fizesse seus olhos brilharem. Já quis ser médica e engenheira mecânica. A lista de desejos também incluiu o que viraria sua raiz, agora, com inspiração encontrada desde a infância dentro de casa: a área técnica da eletricidade.
“Meu pai, Winston, é técnico em eletrotécnica, mas atuava na parte da mecânica, na parte de navios”, diz ela, que concluiu o curso de automação industrial no CTGAS-ER em 2017, se formou no ano seguinte como instaladora de sistemas fotovoltaicos e, também no Centro, em 2021, virou técnica em eletrotécnica.
Os primeiros passos no setor de energia solar foram como estagiária, um degrau em que, conta ela, enfrentou preconceito.
“Um colega de trabalho duvidava de algumas coisas que eu fazia por ser mulher e achava que eu era incapaz”, diz Wellen. Em outra situação, continua, ficou constrangida com um pedido. “Ele pediu para eu fazer uma ligação telefônica, que era um dever dele, e disse: ‘É melhor você ligar porque eles preferem falar com mulheres. Você entende, né?”.
Ela não entendeu e teve a sorte de não encontrar outros episódios do tipo no caminho. Investiu em mais qualificação. Agora, está cursando Ciência e Tecnologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e quer seguir se aperfeiçoando.
Na própria empresa, que fornece serviços técnicos terceirizados e abriu junto com o técnico em eletrotécnica e namorado, Lucas Lopes, encontra o que planejava: espaço. Desenvolve projetos e homologações de sistemas fotovoltaicos, faz análise avançada de sombreamento, estudo de viabilidade financeira e outras soluções em demais ramos da elétrica. A mãe, Fabiana, acompanha de perto. Também está com os pés fincados no setor, atuando como empresária e vendedora de energia solar.
“Na área tecnológica, de engenharia, de fotovoltaica, qualquer área que seja nessa parte de engenharia, a mulher está se destacando, tem várias histórias inspiradoras de mulheres que estão nesse ramo mostrando que elas são capazes sim de fazer coisas assim, extraordinárias”, diz Wellen. “Então sim, a área tecnológica é área para mulher, está entre minhas paixões e oportunidades de crescer profissionalmente e a minha mãe também me incentiva a sempre ir em busca dos meus sonhos!”, arremata.
*A entrevista foi realizada pela jornalista e assessora do CTGAS-ER e do ISI-ER, Renata Moura, em fevereiro de 2022, durante sessão de fotos do fotojornalista Alex Régis, com Wellen, para a reportagem “Energias Renováveis impulsionam empregos no Rio Grande do Norte”, publicada no jornal Tribuna do Norte. As imagens foram registradas no CTGAS-ER.
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