Estudo destaca impactos do setor eólico, em expansão no Brasil e no RN, para a economia

22/02/2022   17h28

Cada R$ 1,00 investido no setor eólico representa um retorno de R$ 3 para a economia, assim como novos empregos e efeitos positivos para o meio ambiente

 

Um estudo divulgado nesta terça-feira (22) pela Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEólica mostra que cada R$ 1,00 investido no setor eólico no Brasil representa um retorno de aproximadamente R$ 3 para a economia. O estudo estima que 196 mil empregos foram gerados na atividade entre 2011 e 2020, ou 10,7 empregos por Megawatt (MW) instalado na fase de construção dos parques e, em média, 0,6 empregos por MW instalado para Operação & Manutenção. A tendência apontada para o setor, segundo a análise, é de expansão considerando novos investimentos previstos em parques eólicos em terra e também nos parques offshore, no mar – setor que tem os primeiros projetos à espera de licenciamento e o Rio Grande do Norte apontado como uma das zonas mais promissoras para os empreendimentos.

 

Embora não apresente os efeitos do setor por estado, a presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum, destacou como “aspecto importante”, durante a live de apresentação do estudo, que a região Nordeste concentra 80% dos parques eólicos do país e que o RN lidera essa geração, com os parques instalados em terra. “Somando o que está em construção e o que está gerando, o estado tem montantes superiores a 10 Gigawatts (GW)”, disse ela.

 

Durante a live de apresentação dos dados, Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica, ressaltou liderança do Nordeste e do Rio Grande do Norte no setor

 

Bráulio Borges, pesquisador-associado do FGV-IBRE e economista-sênior da LCA Consultores – que assina o estudo – reforçou o impacto regional que o setor exerce e que poderá ser ainda mais potencializado no futuro.

 

“Nosso objetivo com esse trabalho foi estimar os impactos para a economia brasileira como um todo, agora, naturalmente, na fase de investimentos, boa parte disso acaba se concentrando localmente, nas regiões onde esses parques estão sendo construídos e isso traz uma outra discussão: essa é nitidamente uma oportunidade de ter política de desenvolvimento regional”, frisou ele.

 

“A gente sabe que a região Nordeste ainda é a região mais pobre do Brasil e o fato de ter abundância desse recurso (eólico), pelos mapeamentos onshore e offshore, permite dizer que, se bem utilizado, o setor pode viabilizar um catching up, uma convergência da renda dessas regiões mais pobres para a média nacional, eventualmente até ultrapassando essa média”, destacou o pesquisador.

 

Oportunidades
Para Rodrigo Mello, diretor do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), sediados no Rio Grande do Norte e principais referências do SENAI no Brasil em educação profissional, pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco em energia eólica, solar e sustentabilidade, os dados posicionam o setor como “principal indústria no país que, de fato, acontece na região mais carente de oportunidades de negócio e emprego, que é o Nordeste”.

 

“São resultados que indicam o crescimento acontecendo de forma distribuída, não só ao redor das capitais e das maiores cidades, mas especialmente de forma distribuída no Semiárido. Isso é visível nas cidades por onde começou a implantação dos parques, como as dezenas que nós temos aqui no Rio Grande do Norte”, analisa. “É uma indústria que chegou 15 anos atrás para mudar a história do Brasil a partir do Nordeste e do Rio Grande do Norte”, complementa.

 

Rodrigo Mello, do ISI-ER e do CTGAS-ER: Resultados indicam o crescimento acontecendo de forma distribuída, não só ao redor das capitais e das maiores cidades

 

O estudo
O objetivo do estudo foi quantificar os impactos diretos e indiretos dos investimentos em energia eólica para o PIB, para os empregos e também para a redução de emissão de CO2. “No caso do impacto do PIB, partimos do valor investido de 2011 a 2020, que foi de R$ 110,5 bilhões na construção de parques eólicos. Por meio de metodologia que calcula efeitos multiplicadores de diferentes tipos de investimentos, chegamos ao valor de mais R$ 210,5 bilhões referentes a efeitos indiretos e induzidos, num total de R$ 321 bilhões. Isso significa que cada R$ 1,00 investido num parque eólico tem impacto de R$ 2,9 sobre o PIB, após 10 a 14 meses, considerando todos os efeitos”, explica Bráulio Borges.

 

“Esta é a prova de que, além de ser uma energia renovável, a eólica também tem um forte componente de aquecer atividades econômicas das regiões aonde chegam parques, fábricas e toda a cadeia de sua indústria. E este é um número fundamental num momento em que discutimos a retomada econômica verde”, avalia Elbia Gannoum, da ABEEólica.

 

Com relação ao emprego, os números estimados, disse Borges, “permitem a realização de alguns cenários para o futuro próximo, uma vez que o setor tem um bom mapeamento de quanto será instalado nos próximos anos”. Elbia complementa: “Internacionalmente, trabalhamos com valores que vão de 10 a 15 postos de trabalho por MW. Com esse valor de 10,7 estamos num cenário razoavelmente conservador de estimativa, e agora queremos refinar estes dados para termos um cenário ainda mais detalhado do que geramos de empregos pelo País. Neste exato momento, temos quase 5 GW em construção pelo País, então com esse valor do estudo sabemos que são mais de 50 mil trabalhadores neste momento construindo nossas futuras eólicas, além dos mais de 15 mil em Operação & Manutenção”.

O pesquisador Bráulio Borges, que assina o estudo, destacou o impacto nacional do setor eólico, mas também frisou os efeitos regionais

 

Por se tratar de uma fonte “limpa”, com baixíssima pegada de carbono, a geração eólica também tem como efeito colateral positivo, segundo o estudo, uma redução das emissões dos gases associados ao efeito estufa. Em valores monetários, o estudo aponta que, no acumulado de 2016 a 2024, o setor eólico brasileiro terá evitado emissões de gases do efeito estufa valoradas entre R$ 60 bilhões e 70 bilhões – ou seja, terá evitado uma redução do PIB futuro brasileiro e mundial nesse patamar.

 

Na média, no período de 2011 a 2020, o setor respondeu por cerca de 0,5% do PIB brasileiro, tendo se aproximado de 0,8% do PIB em anos de forte recessão (como 2015 e 2020), impedindo quedas ainda mais acentuadas da atividade econômica brasileira naqueles anos, segundo o pesquisador Bráulio Borges.

 

A análise destaca ainda que a expansão do parque eólico ao longo da última década fez com que o percentual da energia elétrica gerada no Brasil a partir dessa fonte saltasse de algo próximo de zero em 2010 para pouco mais de 9% em 2020, devendo ter ultrapassado os 10% em 2021 – e que, “não fosse essa forte expansão da geração eólica, provavelmente o Brasil teria enfrentado problemas mais sérios de suprimento de eletricidade nos últimos anos, em um contexto no qual tem chovido muito abaixo da média histórica desde 2012”.

 

O estudo também observa que, em uma estimativa conservadora, a capacidade total de geração eólica deverá aumentar em cerca de 50%, no Brasil, nos próximos cinco anos.

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