5,8 milhões de dias de trabalho perdidos. Mais de 40,3 mil notificações com indícios de que algo não vai bem com o trabalhador, e nem no ambiente de trabalho.
Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostram a dimensão que acidentes e afastamentos envolvendo colaboradores de indústrias, lojas e empresas em outras atividades no Rio Grande do Norte ganhou nos últimos oito anos. E também aponta a suposta principal vilã nessa história: “dor nas costas”.
O problema, entretanto, pode estar muito antes da dor – em cadeiras, ou em outras condições inadequadas, encontradas nos postos de trabalho. A análise é de especialistas que apontam a ergonomia entre as possíveis soluções para reduzir riscos de lesões e, por consequência, diminuir índices de afastamentos na equipe e elevar a competitividade dos negócios.
Mas o que é ergonomia e como ela pode ajudar? É o que mostra essa reportagem.
Curso de Ergonomia
A Ergonomia é a ciência que estuda a adaptação do trabalho ao homem e nunca o contrário, diz o engenheiro de segurança do trabalho e instrutor de educação nos cursos de Segurança do Trabalho e Ergonomia do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, em Natal, Marcus Dantas.
O curso de Ergonomia é oferecido pelo Centro desde o ano passado e voltado a profissionais que atuam na indústria e em outras atividades – em ocupações ligadas à medicina, enfermagem e segurança do trabalho, arquitetura e Recursos Humanos, além de consultorias e integrantes de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes, as CIPAs.
O profissional da área aplica teorias, princípios, dados e métodos a projetos que visem otimizar o bem estar físico, mental e organizacional do colaborador e o desempenho global de sistemas que estão inseridos no ambiente de trabalho.
Análise
Por meio de análises específicas, ele consegue, por exemplo, identificar o que está levando a casos de afastamentos por dores na lombar. “E, com essa análise, é possível adotar medidas de controles para amenizar esse risco laboral e reduzir esse indicador de afastamento”, explica Dantas.
Dados oficiais mostram e o caixa das empresas confirma: “O afastamento do trabalhador gera um custo, diminuição de produtividade”, frisa Rodrigo Mello, diretor do CTGAS-ER.
“E o SENAI, enxergando a perspectiva de aumento de despesas das empresas e outras questões, como o crescimento do trabalho em home office durante a pandemia – na perspectiva de que muitas pessoas estão neste momento trabalhando em instalações não programadas para suas atividades – enxergou a demanda empresarial que existe nessa área e formatou uma solução para atendê-la”, acrescenta.
“O objetivo é melhorar o rendimento, evitar despesa, evitar afastamento”.
Ergonomia no trabalho
O curso de Ergonomia do CTGAS-ER é oferecido na modalidade EAD, com carga horária de 40 horas. “O objetivo é preparar profissionais para realização de Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e laudos ergonômicos, de acordo com a legislação vigente e com subsídios para que proponham melhorias adequadas aos postos de trabalho”, diz o instrutor, Marcus Dantas. “É um profissional para aplicar a ergonomia na prática e multiplicar o conhecimento a respeito na empresa ou em outra instituição onde atua”.
Entre os retornos possíveis com o investimento na área, lista ele, estão a melhora na qualidade de vida, na saúde mental e no desempenho das equipes, além de possíveis reduções de custos associadas a esse processo, com menor índice de afastamentos.
O problema a ser resolvido
Os dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostram que, entre os anos 2012 e 2020, o Rio Grande do Norte registrou 5,8 milhões de dias de trabalho perdidos, número que corresponde à soma da duração de cada auxílio-doença concedido por acidente do trabalho no estado – período em que o trabalhador tende a se recuperar, ainda que com sequelas, exceto quando há, em casos mais graves, a aposentadoria por invalidez.
Os gráficos disponíveis na plataforma mostram que, ao longo desse período, foram registradas mais de 40,3 mil notificações de acidentes do trabalho no estado e que um total de 22.646 benefícios previdenciários foram concedidos. A causa campeã dos afastamentos é o que salta na tela em um quadro vermelho – a dorsalgia, popularmente conhecida como “dor nas costas”.
No Brasil, números recém-divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência – sem dados por estado – também apontam essa como principal razão dos afastamentos nacionalmente, em 2021, atrás da Covid-19. Foram mais de 88 mil casos envolvendo problemas na lombar, entre dores e outros transtornos que afetam essa região do corpo.
Receita?
Os dados do Ministério também mostram, no ranking de 10 problemas mais frequentes, condições como “lesões no ombro e síndrome do manguito rotador”, com mais de 20 mil afastamentos no país, cada. “São problemas tipicamente causados por LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho)”, explica Marcus Dantas. “Isso pode ser provocado por trabalho repetitivo e exaustivo, elevação de cargas a mais do que o permitido, ou, por exemplo, por meio do manuseio incorreto de cargas”, acrescenta.
A ergonomia, segundo ele, é um estudo que leva à tomada de decisões adequadas para identificar possíveis riscos, necessidades de adaptação em postos de trabalho e também na implementação de ações que podem evitar que eventuais desconfortos se transformem em lesões, afetando a saúde do trabalhador e, por consequência, a produtividade e a competitividade do negócio.
Ginástica laboral, adequações como iluminação correta e cadeiras ajustáveis a diferentes trabalhadores e especificidades de trabalho, além de pausas programadas, estão entre as soluções que podem ser propostas. “Mas não existe receita de bolo. Por isso, ter alguém preparado para fazer a avaliação é importante”, diz Dantas.
SERVIÇO:
Curso: NR 17 – Aplicação da norma e análise ergonômica
Onde: CTGAS-ER, do SENAI-RN, na modalidade EAD
Vagas abertas, com início das aulas em 02/03/2022.
Mais informações: https://www.rn.senai.br/matricula-online/?p=turmas_ead&curso=APP.00595
SAIBA MAIS
No artigo “Ergonomia: um estudo sobre sua influência na produtividade”, pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul ressaltam que “quando o posto de trabalho não atende aos requisitos ergonômicos, arcam com os prejuízos não só os trabalhadores e as empresas, mas também a sociedade como um todo. “Dentre as consequências resultantes da não adequação aos parâmetros ergonômicos, podem ser destacadas a ineficiência da produção, a diminuição do tempo de atividade laborativa e a saturação do sistema previdenciário”, afirmam.
*Crédito da primeira foto: Freepik
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