“É preciso desmistificar o hidrogênio e acelerar o desenvolvimento tecnológico para torná-lo viável no país”, diz diretor do ISI-ER

10/11/2021   13h28

Rodrigo Mello, diretor do ISI-ER: Risco de tratar o hidrogênio como algo distante é o de afastar investimentos e pessoas do produto

 

O diretor do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, defendeu nesta terça-feira (09), em Brasília, que “é preciso desmistificar o hidrogênio e acelerar o desenvolvimento tecnológico para torná-lo viável no país”.

 

A análise foi feita na palestra “Hidrogênio e Energias Renováveis construindo um novo mundo”, transmitida ao vivo nos canais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Ministério do Meio Ambiente no YouTube, pelo Dia da Indústria Brasileira na COP26 – parte da programação do governo na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, maior evento sobre mudanças climáticas do mundo.

 

A live contou com palestras e painéis realizados no Estande Brasil, em Glasgow, na Escócia – sede da Conferência – e no Estúdio da CNI, em Brasília. A palestra de Mello foi realizada dentro do painel Transição Energética, que também trouxe experiências empresariais bem-sucedidas em meio ambiente e sustentabilidade com apresentações do Grupo Energisa e das siderúrgicas ArcelorMittal e Ternium.

 

SENAI

No caso do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Rio Grande do Norte (SENAI-RN), ao qual o ISI-ER é vinculado, pesquisas em busca de rotas alternativas de produção de hidrogênio – aquelas que não geram emissão de carbono no processo industrial – são desenvolvidas desde o ano 2010.

 

Soluções na área também são buscadas por meio da Chamada Pública Missão Estratégica Hidrogênio Verde, lançada em conjunto com a CTG Brasil – uma das líderes no país em geração de energia limpa – para apoiar projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com foco em hidrogênio, “uma das palavras”, segundo Rodrigo Mello, “que mais têm sido repetidas na COP26”.

 

“Mas para falar desse assunto, a gente precisa começar desmistificando, para que as pessoas não pensem que hidrogênio é aquela coisa inatingível, aquela tecnologia dos sonhos, de um filme”, disse ele na palestra, alertando sobre “o risco”, caso contrário, “de afastar investimentos e pessoas do produto”, já conhecido como “combustível do futuro”.

 

“É preciso que a gente saiba que o hidrogênio já está na nossa vida, que faz parte da nossa rotina, que está na gordura hidrogenada do sorvete, da margarina, no processo de produção da gasolina do nosso carro, no fertilizante que chega na nossa mesa através da fruta e da verdura. E que é no assunto ‘como fazer o hidrogênio’ que está a novidade”.

 

Palestra foi realizada em painel que também trouxe experiências empresariais bem-sucedidas em meio ambiente e sustentabilidade

 

O hidrogênio
Mello apresentou três caminhos para produção do hidrogênio, destacando dois deles como rotas preferenciais para o Brasil, pelos impactos ambientais reduzidos: o hidrogênio verde – proveniente da eletrólise, um processo físico-químico que utiliza a energia de fontes renováveis como eólica e solar – e o hidrogênio a partir de matérias-primas orgânicas, como o bioetanol e o glicerol provenientes da produção do biodiesel.

 

Ambos são alternativas à produção a partir de gás metano, mais comum hoje e mais poluente. “O hidrogênio que já está na sua casa, feito por reforma de metano, que emite CO2 (gás do efeito estufa), é o que a gente quer evitar. Mas por outro lado é o mais barato de se produzir e que já tem um projeto de logística e distribuição pronto, instalado e funcionando”, detalhou o diretor do ISI, considerando, nesse contexto, a necessidade de introdução gradual das alternativas nos processos de produção já estabelecidos.

 

“A gente precisa entender que para implantação do processo de consumo e distribuição de hidrogênio é preciso fazer uma transição, um processo contínuo a partir do consumo do hidrogênio cinza, que é aquele da reforma do metano. Não é virando a chave, deixando de produzir o cinza e passando a produzir o renovável que se resolve. Precisamos (gradualmente) diminuir a produção de um e aumentar a produção do outro”, observou.

 

O grande desafio que existe, complementou ainda, “é a partir de decisões mais céleres possíveis, tanto da iniciativa privada quanto do setor público, colocar isso para rodar”. “Porque precisamos que o desenvolvimento tecnológico seja acelerado e que a escala de produção faça com que o valor atual do hidrogênio verde ou renovável possa diminuir muito, para que ele chegue naturalmente nas nossas casas”.

 

Mello apresentou caminhos de produção de hidrogênio, com destaque para o hidrogênio a partir de fontes renováveis

 

SAIBA MAIS – O Brasil protagonista
O hidrogênio verde é apontado mundialmente como alternativa para reduzir os impactos do efeito estufa, substituindo, por exemplo, combustíveis fósseis em meios de transporte e insumos usados na linha de produção da indústria. Tanto nesse caso quanto na produção do hidrogênio a partir de matérias-primas orgânicas Mello observou que o Brasil deve ser encarado como ‘ator principal’ do processo.

 

No hidrogênio verde, o protagonismo se dá pela crescente geração sobretudo de energia eólica, que ganha perspectivas ainda maiores com projetos de parques eólicos offshore, ou seja, os parques com torres instaladas no mar, uma indústria que começa a se estruturar no país e que tem no Rio Grande do Norte – maior produtor de energia eólica em terra – uma das zonas de investimentos já apontadas como mais promissoras.

Skip to content